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domingo, 30 de janeiro de 2011

Seguir Jesus: O mais fascinante projeto de vida













"[Jesus] dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia após dia tome a sua cruz e siga-me".


Jesus Cristo nos chama a segui-lo. Tal convite não pode ser respondido com um mero levantar de mão em cruzadas evangelísticas. Falo como evangelista acostumado a este fenômeno: milhares de mãos se levantando, respondendo sim ao apelo de seguir Jesus. Na realidade, pode ser que o gesto seja o primeiro de uma sucessão benéfica que inclua: apertar a mão de irmãos, lavar os pés dos santos, enxugar lágrimas a aflitos, dar água e pão aos pobres, curar as feridas dos flagelados, impor as mãos sobre os doentes ou uni-las em oração e prece. Se este for o processo, então aquele gesto foi válido. No entanto, se não propiciar tal fluxo de vida e sucessão de atos, não passou de coreografia de trabalho religioso, ilusão para os servos da idolatria estatística e fantasia para os que pretendem povoar o céu a partir da graça barata.


Seguir Jesus não é ser modelado dentro do apertado terreno dos condicionamentos psicológicos, culturais e religiosos dos nossos guetos evangélicos. Entre nós a conversão é muitas vezes um fenômeno de mimetismo, não o nascer de uma nova criatura. A conversão não é, na nossa superficial e freqüentemente hipócrita cultura evangélica, a assimilação de chavões, palavras, gestos feitos, tom de voz e indumentária própria. Não tenho medo de ser julgado. O que disse está dito, pois conheço a igreja de Cristo no Brasil e sei que ela precisa ser liberta da religiosidade que por vezes Jesus odiou e reprovou.


Discipulado também não é apenas vida moral e social ajustada. Pagar as contas em dia, lavar o carro todo sábado, levar os filhos ao parque, sair para jantar uma vez por semana com a esposa, ser bom vizinho e ótimo profissional não é tudo sobre discipulado. Esta vida certinha ainda está dentro do ordinário. O discipulado está no nível do extraordinário.


Seguir Jesus extrapola os melhores hábitos. É ir tão mais além que desajuste os certinhos e desinstale os irremovíveis e plantados no seguro terreno da vida acomodada. Discipulado é vida para nômades. É existência para aqueles que confessam que todo país estrangeiro pode ser sua pátria e que o planeta Terra não é seu lugar de repouso, porque aspiram à Pátria Superior. Ser discípulo é ter tanto a disciplina quanto a criatividade das ondas do mar. Disciplina porque as ondas são ordenadas e têm princípios. Criatividade, porque elas existem dentro de uma dinâmica: cada onda é diferente da outra.


Neste sentido, seguir Jesus é obedecer a princípios imutáveis, mas é também ser livre como as ondas do mar. Um discípulo, ao mesmo tempo que vive obediente a Deus, descobre a pessoa dinâmica que deve ser, conforme a expressão da sua inerente potencialidade e mediante os variados dons espirituais que a graça de Deus acrescenta à vida de cada cristão.


Em razão das afirmações anteriores e de muitas outras ainda não apresentadas é que Jesus diz que o discípulo é um ser livre. O discípulo é um ser livre Cristo não esmaga a cana quebrada e nem apaga a torcida que fumega. Ele não violenta o coração. Não faz apelos emocionalmente irresistíveis. Não coage a alma humana. Não faz lavagem cerebral. Seu convite ao discipulado começa com um "se alguém quer".


O homem deve analisar se deseja segui-lo. Ninguém é forçado a aceitar. O candidato ao discipulado tem que se sentir em liberdade, pois Jesus mostra que há opções. Todavia, a opção para fora do discipulado é morte, escravidão, gemido e náusea.


No discipulado há uma lei básica: a pessoa é livre para tudo, só não é livre para deixar de escolher. O candidato a ele é escravo da sua liberdade. Mas é tão livre que pode até escolher ser escravo. O discípulo é alguém que quer. Deus criou o homem não apenas com o livre arbítrio mas também com o poder de arbitrar. Por isso Jesus afirma que o discípulo tem que ser alguém que quer. Se alguém quer, é como inicia o convite.


O seguidor de Jesus deve saber o que quer, porque o discipulado sempre exige uma de-cisão. Algumas decisões não são de-cisões. No discipulado, no entanto, não raramente as tomadas de posição implicam rupturas, fraturas emocionais, psicológicas, familiares, sociais e até econômicas.


O discípulo tem que saber o que quer, porque dele é exigido que abra mão de valores, a fim de se apoderar do Reino de Deus: "O reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem, tendo-o achado, escondeu. E, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem, e compra aquele campo. Não se trata de salvação pelas obras, mas de entender e aceitar os custos da descoberta, da REVELAÇÃO. O tesouro valia mais do que o campo. Logo, quem comprou o campo, ganhou o tesouro de graça. Assim é no Reino de Deus: a salvação (tesouro) é de graça, mas o discipulado (campo) tem um preço. Há valores a serem trocados; há um custo a ser pago".


Isto porque o Reino dos Céus é a única realidade duradoura, e o seu valor é incalculávelmente precioso. Por isso a pessoa realmente desejosa de receber os resultados positivos da vida no Reino dos Céus, uma vez confrontada com ele, prontamente, e cheia de alegria, fará o sacrifício que for necessário, seja a perda de amizades, bens, posição, ou inclusive da própria vida.


Todavia deve-se saber que quando a grande alegria, que supera toda medida, toma conta da alma, ela arrebata, atinge o mais íntimo, supera a compreensão. Tudo fica pálido e sem brilho diante do brilho do Reino dos Céus. Nenhum preço parece alto demais diante desse tesouro. A entrega precipitada e irrefletida do que há de mais precioso torna-se a evidência mais clara disso. Diante do Reino entrega-se tudo porque se fica arrebatado diante da grandeza do achado. A boa-nova da sua irrupção arrebata, gera a grande alegria, orienta toda a vida para a consumação da comunhão com Deus, opera a entrega apaixonada. Faz com que a perda seja ganho. Transforma o sacrifício em festa. Faz da troca de valores o melhor negócio.


Deve ainda o discípulo ter a coragem de aceitar que sua conversão pode dividir a família. É possível que haja uma de-cisão na sua casa. Pode surgir uma guerra emocional e religiosa do pai incrédulo contra o filho convertido, ou do filho rebelde contra o pai arrependido; da mãe beata contra a filha que mudou de religião, ou da filha renitente contra a mãe recém-convertida; da sogra falante contra a nora humilde, ou da nora avançada contra a sogra considerada quadrada por causa de Jesus.


O discípulo deve saber que seus inimigos poderão ser os da sua própria casa. Deve, no entanto, estar informado de que no Reino de Deus existe o milagre da multiplicação dos relacionamentos interpessoais e dos privilégios sociais: "Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou mãe, ou pai, ou campos, por amor de mim e por amor do evangelho, que não receba já no presente o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e no mundo por vir a vida eterna - ver também que a Cruz gera nova família.


É indispensável ainda que o discípulo saiba o que quer, porque a vida de um seguidor de Jesus é comparável à de um sentenciado à morte: ele pode morrer de morte violenta ou não, mas, em qualquer dos casos, existe morrendo para poder morrer vivendo. Quem quiser preservar a sua vida, perdê-la-á; e quem perder, de fato a salvará. No Reino de Deus convive-se com o paradoxo de que achar a vida é perdê-la, e perder a vida por Jesus é achá-la.


Esta opção de vida leva o seguidor de Jesus a uma disposição de limitar-se tanto quanto necessário: "Se tua mão te faz tropeçar, corta-a; pois é melhor entrares maneta na vida do que, tendo as duas mãos, ires para o inferno, para o fogo inextinguível (onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga). E se teu pé te faz tropeçar, corta-o; é melhor entrares na vida aleijado do que, tendo o dois pés, seres lançado no inferno (onde não lhes morre o verme nem o fogo se apaga). E se um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-o; é melhor entrar no Reino de Deus com um só dos teus olhos do que, tendo os dois, seres lançado no inferno". Este modo de vida exige espírito voluntário. Entretanto, no texto onde Jesus ensina maneiras de se imporem limites, raia a luz da mais intensa expansão e liberdade. A mão, pé ou olho amputado são do discípulo mas não são o discípulo. O cristão que se limita por causa do Reino de Deus continua inteiro, completo, pleno.


Outra surpresa diante da qual Jesus nos coloca é que essa aparente castração é o caminho para a verdadeira vida (a palavra vida aparece duas vezes no texto como resultado desses atos). Resta-nos a constatação de que aqueles que rejeitam essa limitação vão plenos para o inferno. E a última estranheza da sabedoria de Jesus é que aquele que se apodera de menos (mão), anda por caminhos menores (pés), e vê menos (olho), é quem vai se apoderar de mais; é quem entrará no céu e verá a glória de Deus no Reino eterno.


As implicações de cada uma dessas lições afetam os negócios, os sentimentos, os relacionamentos e as ambições do cristão. Não se trata de autoflagelação, mas de autolimitação não patológica produzida pela certeza de que tudo aquilo que faz tropeçar tem que ser evitado.


O discípulo, para aprender de Jesus, tem que ter a palavra do Mestre como o ponto de partida, o ponto de apoio, o ponto de referência, o ponto de vista e o ponto de chegada. "Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica, será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha". O discípulo tem que estruturar a sua vida única e exclusivamente sobre a Palavra de Deus. Não há outra base. Seus pontos de vista são os de Deus. Sua estrutura é a verdade do reino de Jesus. As opiniões próprias são sepultadas quando alguém se dispõe a ser um aprendiz do Mestre. Importa ter a mente de Cristo e não aceitar viver de outra maneira que não seja sobre as bases do ensino do Senhor.


Qualquer outra obsessão termina quando começa o discipulado. Nele só há lugar para a sadia obsessão do Reino de Deus. Nem afazeres, nem compromissos, nem qualquer relacionamento humano podem tomar o lugar e a importância do convite de Jesus. "Certo homem deu uma grande ceia e convidou a muitos. À hora da ceia enviou o seu servo para avisar os convidados: Vinde, porque tudo já está preparado. Não obstante, todos à uma começaram a escusar-se. Disse o primeiro: Comprei um campo e preciso ir vê-lo; rogo-te que me tenhas por escusado. Outro disse: Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-las; rogo-te que me tenhas por escusado. E outro disse: Casei-me, e por isso não posso ir. Voltando o servo, tudo contou ao seu senhor. Então, irado, o dono da casa disse ao seu servo: Sai depressa para as ruas e becos da cidade e traze aqui os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos. Depois lhe disse o servo: Senhor, feito está como mandaste, e ainda há lugar. Respondeu-lhe o senhor: Sai pelos caminhos e atalhos e obriga todos a entrar, para que fique cheia a minha casa. Porque vos declaro que nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia.


O consumismo e as ambições materiais têm que estar sob o completo domínio da sabedoria de Cristo para não sufocarem a Palavra de Deus no coração do discípulo. O cristão deve ser capaz de dizer como Wesley: "Desfaço-me do dinheiro o mais rapidamente que posso para que, porventura, ele não encontre o caminho do meu coração". Instalar a segurança da vida sobre as riquezas é dificultar a entrada no Reino de Deus. É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha.


Até mesmo algo tão significativo quanto a morte na família é menos urgente que o convite de Jesus. Enterrar o pai não é tão importante quanto pregar o Reino de Deus. O Mestre diz: "Deixa aos mortos o enterrar seus próprios mortos. Tu, porém, vai, e prega o Reino de Deus". O engajamento no discipulado é inadiável e intransferível. Há maior urgência em salvar vidas do que em sepultar os mortos. Este é, todavia, um princípio in extremis, para ser praticado diante da necessidade irresolvível de se fazer uma opção.


Seguir Jesus é caminho sem retorno. Pelo menos é assim que o candidato deve encarar. "Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás, é apto para o Reino de Deus". Não pode haver titubeio. Avançar é a única alternativa viável. O discípulo diz: "Esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação em Cristo Jesus".


O caminho com Jesus não conduz aos palácios, às mansões majestosas ou às alturas da glória do mundo. Seguir o Mestre leva mais facilmente ao desabrigo do que a um colchão d'água. É mais provável que vá dar em um pequeno apartamento do que em uma suíte presidencial. Não raramente as raposas e as aves encontrarão maior conforto e segurança domiciliar do que alguns engajados seguidores de Jesus. "As raposas têm os seus covis e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça. Diante de tais conclusões, um candidato ao discipulado desistiu do percurso existencial, social, econômico e espiritual da trajetória cristã. Ler o que Paulo declara sobre a vida dos ministros de Cristo, vivendo as mais sublimes expressões do Reino de Deus e as conseqüências de tais compromissos aos olhos do mundo, comprova a realidade desta afirmação: "Pelo contrário, em tudo recomendamo-nos a nós mesmos como ministros de Deus: na muita paciência, nas aflições, nas privações, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns, na pureza, no saber, na longanimidade, na bondade, no Espírito Santo, no amor não fingido, na palavra da verdade, no poder de Deus; pelas armas da justiça, quer ofensivas, quer defensivas, por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama: como enganadores e sendo verdadeiros; como desconhecidos, e entretanto bem conhecidos; como se estivéssemos morrendo e eis que vivemos; como castigados, porém não mortos; entristecidos mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo.


Sim, é indispensável que aqueles que pretendem seguir Jesus avaliem com coerência e seriedade o projeto de vida para o qual estão sendo convidados. Decididamente eles têm que querer. E querer mesmo. Este desejo deve ser mais forte do que a vontade de casar, ter um diploma de faculdade, ter filhos e inclusive ser feliz. (Não se está estimulando a abstinência ou a desistência de nenhuma dessas realidades; coloca-se apenas o desafio de que a ambição do discipulado esteja acima dessas ambições, não tendo, necessariamente, que ser extirpadas da vida.) Seguir Jesus deve ser o desejo supremo, a decisão mais importante. "Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular as despesas e verificar se tem os meios para a concluir? Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar, todos que a virem zombem dele, dizendo: Este homem começou a construir e não pôde acabar". Quem começa tem que acabar. A torre da vida não pode ser abandonada no meio do caminho. O fracasso de não concluir a obra tem um eco eterno. Prepare os seus contingentes morais, psicológicos e espirituais para enfrentar o inimigo nesta peleja. "Qual é o rei que, indo para combater outro rei, não se assenta primeiro para calcular se com dez mil homens poderá enfrentar o que vem contra ele com vinte mil? Caso contrário, estando o outro ainda longe, envia-lhe uma embaixada pedindo condições de paz".


Discipulado é como a escada de Jacó; só termina no céu. É obra a ser realizada durante toda a vida, sem feriados nem dias santos. Até dormindo tem-se que estar alerta. Diante de todas essas colocações é que fica clara a razão de o discípulo desejar o discipulado e estar decidido a seguir o Mestre.


Nos dias em que vivemos, quando a mensagem do Evangelho tem sido insípida e diluída, sem substância, talvez me julguem estar exagerando ou tentando direcionar os desafios de vida aqui expostos para uma classe de pessoas especialmente vocacionadas. Imaginam que os comerciantes, industriais, empresários, fiscais da Fazenda, políticos, advogados e gerentes de bancos estão isentos desse projeto de vida. Pensam: É possível que tal convite se dirija especificamente ao clero, à classe religiosa, aos pastores e obreiros, ou aos crentes muito consagrados. Acontece que a Bíblia não conhece essas distinções. Não há clero, laicato, pessoas de tempo integral e de tempo parcial, o grupo dos crentes simples e dos discípulos engajados. Jesus só tem uma categoria de seguidores: discípulos. Para estes, sua salvação é comum; sua vocação também; os privilégios, idênticos. Finalmente, a missão de cada um, modelada na missão do próprio Jesus, é a mesma para todos. Se convidamos as pessoas a seguirem a Jesus sem sermos honestos com elas, mostrando-lhes até onde pode levar a coerência desse estilo de existir em Cristo, estaremos sendo mercadores da Palavra de Deus, camelôs do Evangelho, não discipuladores que falam em nome de Cristo, na presença de Deus, com sinceridade e da parte do próprio Deus.


O segredo está em aprendermos a colocar todas essas coisas sem o peso do legalismo, do modismo da santidade aparente e do cosmético da pseudopiedade. É o amor de Cristo que nos constrange a viver dentro desse padrão. Trata-se de vida. E o que tem relação com a vida é natural. Cristo não nos chama para um desempenho teatral, mas para uma proposta de vida. E se o amor for a fonte propulsora dessa existência e a substância da alma de discípulo, seguir-lhe os passos torna-se algo natural. Em vista disso, quando um discípulo cai, Jesus apenas questiona seu amor: Tu me amas? Se me amas, então segue-me. O amor responde à altura do convite ao discipulado. O discípulo aprende humildemente.


O seguidor de Jesus não é nem um descobridor nem um pesquisador autônomo, mas apenas um aprendiz. Dele se requer que se limite a seguir a Jesus, aceitando que Cristo é o Absoluto dos absolutos, o Senhor dos senhores, o Rei dos reis, o Mestre dos mestres, o Tudo de todos. "Quanto a ti, segue-me".


Limitar-se a seguir a Jesus é limitar-se no Ilimitado; é deixar-se aprisionar pela Liberdade; é conter-se no Infinito. Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. "Permanecei, pois, firmes, e não vos submetais de novo a jugo de escravidão". Todavia, para viver nesse espaço moral, existencial, psicológico, social e espiritual, o discípulo tem que aprender a aceitar a disciplina. Um seguidor de Jesus sem disciplina é como argila sem modelador. É como a terra no princípio: sem forma e vazia; é bastardo, não filho, criado como rebelde nas esquinas da vida. Quando se fala em disciplina, fala-se em algo que "no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça". Uma das poucas maneiras contemporâneas de essa confrontação se dar, além de pregação, ensino e convívio franco com os irmãos, é quando se tem a capacidade de ler a Bíblia contra si mesmo.


Nesse andar após Jesus o discípulo precisa aceitar fortes repreensões. Deve ser capaz de ouvir: "Arreda Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus e, sim, das dos homens", sem escandalizar-se e sem ser tentado a abandonar a caminhada. Também aceita dramáticas lições sobre humildade na presença de todos, admitindo que os grandes no Reino são os pequenos, e os fortes e poderosos são os humildes. Descobre que no discipulado a ordem natural das coisas é subvertida. Aprende que a ética do mundo de Jesus é a contracultura da presente ordem das coisas, pois Cristo, chamando-o, diz: "Sabeis que os governadores dos povos dominam, e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós, será o vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos. Nesta conclusão, capta-se outra vez o "após mim" de Jesus na expressão "tal como o Filho do Homem".


O discípulo não pode ser cheio de melindres, um hipersensível, um não-me-toques, pois muito freqüentemente suas opiniões serão contraditas e as sugestões reduzidas a pó ante a realidade irreprimível do amor de Deus e do Absoluto que o Amor manifesta no Reino de Deus. Repressões ortodoxas feitas pelos discípulos têm que ser, não raras vezes, repensadas, assim como posições intolerantes e rabugentas reavaliadas, mesmo diante de crianças: "Trouxeram-lhe então algumas crianças para que lhes impusesse as mãos, e orasse; mas os discípulos os repreendiam. Jesus, porém, disse: Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis de vir a mim, porque dos tais é o reino dos céus".


O seguidor é aquele que anda após Jesus. Caso contrário, não é seguidor, é batedor. E nesse caminhar após Jesus os seus atos sectaristas e ortodoxos não raramente serão censurados em função da miopia espiritual da perspectiva do grupo que sempre acomete o discípulo. O aprendiz possui uma forte tendência a tornar-se um segregário, um sectário e um purista doutrinário. É capaz de, em nome da ortodoxia sem amor, proibir alguém de fazer o bem em nome de Jesus, somente porque não faz parte do seu grupo de discipulado. Tais atos fiéis são censurados por Jesus com uma lógica imbatível: "Não proibais; pois quem não é contra vós outros, é por vós". E assim como os atos vêm a ser facilmente questionados, as motivações que levam alguém a realizar a obra de Deus também não estão livres de censura. Muito facilmente o discípulo confunde zelo e fanatismo, fidelidade com legalismo, paixão com revanchismo e coragem com ódio. Jesus sempre questiona as motivações. Tão logo a pseudomotivação santa pretende trazer fogo do céu sobre homens, ele intervém: "Vós não sabeis de que espírito sois. Pois o Filho do homem não veio para destruir a alma dos homens, mas para salvá-la".


Concluindo, deve ficar claro que o lugar do discípulo é após Jesus, e como humilde aprendiz, pois a obra à qual ele é enviado a realizar não é um jogo de sortes e tentivas. Não pode ser escolhida, através de uma roleta-russa metodológica. O aprendizado para a obra de Deus dispensa os critérios de eliminação por erros. As instruções já estão dadas. Os perigos já estão apontados. Os métodos já estão definidos.


Surgiram em nossos dias alguns professores pardais da metodologia eclesiástica e evangelística. São os inventores de novas maneiras de evangelizar. Todavia, Jesus continua nos chamando para andarmos após ele. E nesse caminhar há liberdade para as devidas contextualizações e a criatividade inerente ao espírito humano. No entanto, critérios já estão definidos dentro da firmeza da Palavra de Jesus e com o aval do sucesso do seu ministério, cuja semente, morta, deu fruto em nossa vida.


Na concepção neotestamentária da formação do caráter cristão no interior do discípulo, a confrontação é uma estratégia indispensável. Paulo se refere ao fato de tal processo ser imprescindível na escola do aperfeiçoamento dos crentes: "o qual anunciamos, advertindo a todo homem e ensinado a todo homem perfeito em Cristo; para isso é que eu também me afadigo, esforçando-me o mais possível, segundo a sua eficácia que opera eficientemente em mim". Hoje não temos muitos discípulos, na plenitude do termo. Temos sim, dissidentes, gente que morde e que se morde, tão-somente recebam instruções, repreensões e questionamentos. Ainda não aprendemos o que significa o "vir após mim" de Jesus. E sem tal compreensão não há discipulado. O discípulo entrega os seus direitos a Deus e ao próximo.


A fórmula teológica, comportamental e psicológica através da qual Jesus traduziu essa afirmação é a seguinte: "A si mesmo se negue". Poucas verdades têm sido tão mal compreendidas quanto esta que se refere ao imperativo da autonegação. Em razão deste fato acho melhor começar dizendo o que não é autonegação. Corre no meio evangélico a idéia de que autonegação é aniquilamento da vontade. Contudo isso é falso. A volição é parte fundamental da estrutura sadia da psique humana. A pregação da aniquilação da vontade não é cristã, é budista. Em razão disto há milhares de cristãos vivendo num cristianismo doutrinário, com a interferência de uma espécie de budismo psicológico e existencial. Não me admira que tal conceito de autonegação tenha vindo de cristãos do Extremo Oriente, como Watchman Nee. Não resta dúvida de que o negar-se a si mesmo tem suas implicações na vontade humana. Entretanto, isto não deve diluir toda a vontade da pessoa.


Pela má compreensão dessa realidade há os que pensam que a autonegação acerca da qual Jesus falou é a antítese de tudo quanto possa se constituir em desejo. Neste caso, até a negação de si seria um desejo contra todo desejo natural. Alguns absolutizam tanto este conceito que chegam a incluir entre as vontades que devem ser golpeadas o desejo de pregar o Evangelho, declarando: Este desejo vem da alma. E com esta idéia vão budificando o Cristianismo, transformando seus seguidores em seres cujo ideal é a impessoalidade, a morte da pessoa, do desejo, da vontade e, por fim, da vida plena. Se têm desejo de ir à praia, se proibem: afinal, isto é uma vontade. Se sentem vontade de saborear determinada comida, negam-se. Afinal, isto é um desejo.


Também negar-se a si mesmo não é tornar-se um mórbido alienado, uma espécie de avestruz, com a cabeça enterrada no buraco da religião, pensando que assim pode se refugiar definitivamente do mundo. Alienação não é autonegação, mas suicídio intelectual, social e humano. É exílio da humanidade individual no cativeiro do escapismo religioso.


Outra faceta distorcida do convite de Jesus à autonegação é aquela que se expressa em termos de um meticuloso intimismo legalista. Esta maneira de entender o convite de Jesus transforma a alma em algo parecido a um loteamento de cemitério, onde muitas cruzes têm de ser fincadas a fim de se matarem as áreas vivas da alma. E isto não passa de uma negativa atitude castrante. Trata-se de uma autonegação que só se volta sobre si mesma. Paradoxalmente, vem a ser um autonegar-se egoísta. Negam-se para si mesmos, não apenas a si mesmos. Ninguém é beneficiado com tal atitude. E a vida se torna prisioneira, agrilhoada na cadeia psicológica da falsa perspectiva da autonegação.


A auto-anulação que não gera ação e obras altruístas em favor dos outros é apenas suicídio existencial e psicológico. É a repetição do isolamento dos mosteiros medievais na dimensão do santuário da alma humana. Esse negar-se a si mesmo só é sadio se implica um dar-se a si mesmo.


Autonegação não é automartírio. Não é arriscar desnecessariamente a vida. Não é autoflagelação, seja física, seja psicológica. Na perspectiva do negar-se a si mesmo não podemos nos esquecer de que Jesus veio para que tivéssemos vida e vida em abundância.


Negar-se a si mesmo também não é praticar exercícios ascéticos. Não podemos nos esquecer de que quem nos incitou ao negar-se a si mesmo foi Jesus de Nazaré, aquele que comeu sem lavar as mãos, freqüentou a casa dos fiscais de renda que recebiam propina, aceitou sentar-se à mesa com pecadores, e foi chamado de glutão e bebedor de vinho porque comia com alegria e entusiasmo.


Negar-se a si mesmo não é nada que vai além do projeto de vida de Jesus. Qualquer invenção de autonegação que não seja encontrada e praticada na vida de Jesus é doentia, patológica e sub-humana. Cristo é o protótipo da autonegação. Nele a autonegação não é incompatível com felicidade. Nele o negar-se a si mesmo admite a tensão existencial vivenciada por Paulo: "entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo". Quando o cristão pratica o verdadeiro negar-se a si mesmo é que o seu eu se purifica. E nesse processo morre não o ego, mas sim o ego-ísmo.


Além de ser promovida pelo dar-de-si, essa autonegação pode também ser resultado das pressões produzidas pelo estilo de vida do cristão: "Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos; levando sempre no corpo o morrer de Jesus para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal".


Negar-se a si mesmo é renunciar a tudo quando se tem, pois há muitos aspectos daquilo que somos mais fáceis de serem renunciados do que algumas coisas que temos. E mais: a autonegação envolve a renúncia da possibilidade de praticarmos o pecado moral e motivacional. No entanto, muito acima disso está o abrir-se inteiramente a Deus e ao próximo. Negar-se a si mesmo só faz sentido se for um negar-se por alguém que não seja o próprio eu. E as duas únicas categorias de existência consciente fora de mim para as quais preciso doar-me são Deus e o próximo. Assim, a autonegação do ponto de vista cristão se realiza na autonegação coincidente com uma reação altruísta.


Aceitar o convite de Jesus para segui-lo já implica, pois, o início desse processo, já que, para andar com ele, o discípulo tem que estar disposto a negar tudo, desde os bens materiais até os relacionamentos afetivos.


O discípulo nega-se a si mesmo Jesus traduz esta afirmação aparentemente contraditória com uma declaração original: Dia a dia tome a sua cruz. A proposta começa com a expressão dia a dia, o que significa a ausência de feriados, descanso e distração. Nessa declaração Jesus faz jungir sua proposta à ininterruptibilidade do fluxo da existência. É todo dia, em todo lugar e a toda hora, vinte e quatro horas por dia. O que nos faz lembrar o salmista: Até de noite o coração me ensina.


Tal apelo pervade todos os recônditos da experiência humana e faz do calendário do cristão uma via crucis. E nem sempre esta via crucis é uma via sacra. Alías, a via crucis coincide mais freqüentemente com a via secular, já que o dia-a-dia do discípulo é mais vivido no mundo - onde ele é sal e luz - do que na igreja - onde ele repousa e refrigera a alma.


Mais uma vez Jesus introduz no seu apelo ao discipulado o elemento vontade. Ele diz: Tome a sua cruz. E o texto estabelece uma sequência: A si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz. Isto significa que só depois de nos esquecermos de nós mesmos é que estaremos prontos e com vontade suficientemente forte para tomarmos a cruz. Estranho paradoxo: só depois de negar-se a si mesmo é que o discípulo tem a força necessária para autenticar-se no mais valoroso, altruísta e abnegado ato de vontade, ou seja, tomar a cruz. Note-se, porém, que a cruz a ser tomada já está preparada desde antes da fundação do mundo. O convite de Jesus é claro: Tome a sua cruz. A cruz é sua; é minha. Cada um de nós a tem, é somente carregando-a que nos tornamos aptos a praticar boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.


Ninguém pode fugir. Todo discípulo tem a sua. Cristão que não a tem não é cristão; é humanista, é bondoso, é caridoso, é qualquer outra coisa, menos discípulo. Cristo nos coloca diante do cotidiano desse levar a cruz, confronta-nos com a necessidade de a tomarmos livremente, e nos garante que cada um tem a sua própria. Contudo, precisamos ainda de alguns esclarecimentos. O que significa, de fato, esta cruz? Qual a sua natureza? Em que se caracteriza? Quais os seus propósitos? Usaremos uma estratégia já empregada e, antes de entrarmos no aspecto positivo da descrição do que seja carregar a cruz, definiremos o que não é carregá-la.


Carregar a cruz não é desventura. Não é azar. Não é ser pé-frio. Não é ter uma sogra insuportável ou um patrão impossível de com ele conviver. Também não é cair da ponte, escorregar da escada ou quebrar a cabeça. Não é sofrimento natural. Também não é sofrimento ocasional causado por circunstâncias desagradáveis que provém da incompatibilidade de gênios e temperamentos. Levar a cruz não é ser acometido de enxaqueca ou reumatismo, nem tem relação com artrite. Levar a cruz não é sofrimento físico provocado por desordens no corpo humano. Afirmo isto porque, não raramente, ouço pessoas dizerem: Meu marido é minha cruz; ou Esse menino é meu calvário; etc. Quando muito, estas coisas podem ser fardos, jugos, opressões, ou espinhos na carne. Cruz é outra coisa.


Para o discípulo, levar a cruz tem, pelo menos, quatro dimensões:


1) Inclusão na Cruz de Cristo. Cada discípulo está morto com Cristo: "Porque se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente seremos também na semelhança da sua ressurreição; sabendo isto, que foi crucificado com ele nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos". Paulo disse: Estou crucificado com Cristo. Nesta dimensão a cruz tem a ver com a nossa salvação, e carregar a cruz é permanecer na graça salvadora de Deus em perseverança e santidade, identificados com a morte salvadora e vicária de Jesus, mantendo comunhão com os seus sofrimentos, conformando-nos com ele na sua morte.


2) Paixão existencial, psicológica e emocional. Para Jesus, carregar a cruz foi também um ato de paixão: "Esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim". Jesus Cristo, a fiel testemunha, o primogênito dos mortos, e o soberano dos reis da terra, aquele que nos ama e nos libertou dos nossos pecados. Paixão por Deus, pela vida e pelos homens. Só um apaixonado morre para salvar o objeto do seu amor.


Na cruz do discípulo não pode faltar paixão, gemido e desejo de dar-se a si mesmo. Paixão é amor aquecido. É coração incandescido pelo fogo do sentir. Assim deve ser o discípulo: um ser virtualmente apaixonado por Deus e pelos homens, ainda que isso implique morte. Morrer pode ser a mais profunda maneira de sentir paixão pela vida, ainda mais quando se crê que esta é eterna.


3) Rejeição social, familiar e religiosa. Paixão e rejeição não são a mesma coisa. Pode haver paixão sem rejeição. No entanto, toda rejeição gera choro, gemido, desejo, paixão. É bem possível que a paixão venha acompanhada de honra e de admiração. Um homem apaixonado nem sempre é rejeitado. No discipulado, entretanto, a paixão é a irmã gêmea e inseparável da rejeição. E é neste ponto que a rejeição faz da paixão mais paixão ainda, pois a rejeição tira dela sua honradez e dignidade. A paixão aliada à rejeição é paixão pura, sem glória humana.


Não é difícil perceber que é para esta dimensão da cruz que todos os discípulos estão caminhando. Todos que querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos. A coerência absoluta com Jesus gera hostilidade. Andar com Cristo significa tornar-se espetáculo ao mundo, tanto a anjos como a homens. É ser a reação da bênção à força de maldições. É ser considerado o esgoto do mundo, a lixeira da sociedade, a escória da civilização.


4) A solidariedade na dor do outro. A cruz de Cristo foi um levar de dores, enfermidades, iniqüidades e injustiças, que teve efeitos vicário, salvífico, substitutivo e inclusivo. Com o cristão é diferente. Nossa cruz não produz nenhum desses efeitos. Todavia, permanece o efeito da solidariedade: "Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei. É interessante observar que esse levar as cargas tem relação, no contexto antecedente de Gálatas, com o pecado do irmão. A solidariedade do discípulo tem que atingir o nível de empatia que acometeu o coração de Paulo: "Quem enfraquece que também eu não enfraqueça? Quem se escandaliza que eu também não me inflame?". Ou: "Agora me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja. Chorar que os que choram é uma forma de carregar a cruz". No entanto, muito mais que isso é chorar pelos que não choram. Foi nesse nível que Jesus se solidarizou com a vida humana indiferente e empedernida. O discípulo deve ser o nervo exposto dos que não têm sentimentos. O discípulo aprende com o que Jesus ensinou e viveu.


A conclusão dinâmica de Jesus no convite ao discipulado é: "Siga-me". Nos dias de Jesus de Nazaré, na terra da Palestina, isto significava andar junto, comer a mesma comida, beber a mesma água, dormir nos mesmos lugares, passar o dia juntos, correr os mesmos riscos e assistir às mesmas maravilhas. Seguir a Jesus era algo histórica e geograficamente definido pela realidade do convívio físico. Como João explica, esse seguir equivalia a ouvir uma voz com um timbre certo, contemplar um rosto que tem fisionomia, apalpar um corpo concreto, enfim, manter comunhão com uma pessoa real no tempo e no espaço. Agora, no entanto, é diferente. Jesus está no céu, à direita de Deus, cheio de poder e glória, e nós estamos aqui neste mundo de perplexidade e revolta. Para nosso supremo consolo, Jesus vive em nós na pessoa amável e doce do seu Espírito. Todavia, em razão disso esse siga-me tomou outra dimensão. Tem implicações na vida concreta e geográfica, na medida em que o caminhar com Jesus desemboca na perspectiva ética, o que por vezes nos afasta de certos lugares por onde Jesus não passou nem passaria. Mas provavelmente isso se aplica mais ao palácio do caudilho do que à casa do pecador. No entanto, a dimensão desse siga-me é comportamental e motivacional. Seguir demanda do discípulo uma disposição prática quanto a assumir um estilo de vida dinâmico, desinstalado, imprevisível e perigoso.


Seguir Jesus é acompanhar o caminho de Deus, é aprender como ele reage dentro da condição humana. E para que isso seja possível, torna-se indispensável que estudemos o estilo de vida humano de Jesus de Nazaré, conforme revelado nas Escrituras: Em Cristo nós sabemos como Deus é e como o homem deveria ser.


A ênfase que daremos ao existir humano de Jesus tem a finalidade de contrapor-se à idéia de que apenas seus ensinos devem ser estudados. Na verdade, a única maneira de fazer teologia e usar acertadamente a hermenêutica é fazer da vida de Jesus a chave para a interpretação e prática do seu ensino. Estudar a ética do Sermão da Montanha sem tentar discernir como Jesus a viveu nos seus três anos de ministério é correr o risco de exagerar as lições ou reduzi-las ao padrão do mesquinho legalismo humano. Tudo o que ele ensinou, ele viveu. Ele é o Verbo que se fez carne. Suas palavras ganharam sangue, nervos, respiração, pele e suor. Acompanhá-lo é unir-se à sabedoria com rosto e olhos. Conhecê-lo é mergulhar no poço humano do conhecimento pleno. Aventurar-se com ele é desenterrar o tesouro da verdade eterna, cujas jóias brilham mais que as estrelas no firmamento. Cristo é a Vida, e só pode ser dignamente chamado de vida aquele existir que dele brota. Fora de Cristo as coisas existem mantidas pelo seu poder de coesão, mas não têm vida no sentido essencial da palavra, conforme entendida por Deus.


É nesse sentido e nessa visão de que a vida de Jesus é o único e definitivo caminho do discípulo que vamos andar. Jesus é aquele em quem haveremos de nos esteriotipar. Ele é o arquétipo, o modelo, o único verdadeiramente Homem. Nós nos tornamos, hoje, meras distorções desse ideal. Por isso, daqui para frente, neste trabalho, tentaremos andar lado a lado com Jesus, a fim de que com ele aprendamos a VIVER.Seguir Jesus: O mais fascinante projeto de vida

domingo, 2 de janeiro de 2011

ANO NOVO, VELHA LUTA!

Ano novo,velha luta!


Pb. Francisco de Aquino.




O apóstolo Paulo não deu aos gregos o fabuloso saber que tanto buscavam também não se engajou na busca frenética por sinais e maravilhas dos judeus místicos. Os dois extremos são perigosos e não podem ser à base da nossa fé.

Sinto com pesar os que hoje desejam dar ao Evangelho uma característica mais atraente, facilitando-o para que possa ser recebido sem vínculo de compromisso pelo homem pós-moderno. Há um grande perigo em todo esse processo evangelístico relativo. Diferente de trazer ao homem de hoje uma mensagem comunicada de maneira atual (que até é válida), é tentar apresentar o Evangelho verdadeiro casado com filosofias e tendências que agradam ao homem sem Deus. Não necessitamos de “novidades espirituais” ou de “novas espiritualidades”, como defendem alguns apregoadores do “mercado” evangélico.

A diferença do Evangelho sempre foi o impacto confrontante de sua mensagem. Nunca houve por parte dos apóstolos intenção de mostrarem alguma relação entre o Evangelho da Cruz e qualquer misticismo, filosofia ou conceito humanista.

Desejo para esse novo ano que se inicia uma espiritualidade que não mude depois do ano que vem. Que tenha referências bíblicas seguras. Que seja descanso para a alma. Quero viver experiências novas com Deus que me transformem em um ser humano melhor, não quero ser moldado a cada nova tendência dos pregadores da mídia, com novidades fresquinhas a cada novo dia, que são persuasivos, mas trazem um conteúdo pouco ortodoxo, e porque não dizer herético. Enquanto Paulo se indignou com a idolatria de Atenas, alguns pregadores atuais se encantariam com a diversidade da cultura grega.

Um ano novo que precisará dos velhos apologistas, para que possamos seguir juntos o velho caminho “Jesus”. Nenhum ano será novo se continuarmos a cometer os erros do velho.



ccANO NOVO, VELHA LUTA!
CRINSERV INFORMÁTIC@