VOLTAR AO PRIMEIRO AMOR - UMA IGREJA VIVA!

E FAZEI VEREDAS DIREITAS PARA OS VOSSOS PÉS, PARA QUE O MANQUEJA NÃO SE DESVIE INTEIRAMENTE, ANTES SEJA SARADO.







SEGUI APAZ COM TODOS, E A SANTIFICAÇÃO, SEM A QUAL NINGUEM VERÁ O SENHOR. Hebreus 12: 13-14.







sexta-feira, 24 de junho de 2011

DEUS NOS GARANTE VITÓRIA ATRAVÉS DA ORAÇÃO











Quando o livro de Daniel foi escrito, Israel estava sob cativeiro na Babilônia. Na altura do capítulo 6, após uma longa vida no ministério, Daniel tinha oitenta anos de idade. O piedoso profeta pregador havia sobrevivido a dois reis babilônicos, Nabucodonozor e seu filho Belsazar. Agora Daniel servia sob o rei Dario.
Em todos seus muitos anos de ministério, Daniel sempre foi um homem de oração. E agora, idoso, ele não pensava em parar. As escrituras não trazem menção de Daniel estar esgotado ou desencorajado. Nada diz de ele ter um pé de meia ou uma casa de campo, onde poderia passar seus anos dourados sem nenhuma responsabilidade. Pelo contrário, Daniel estava só começando. As escrituras mostram que mesmo chegando aos oitenta, as suas orações sacudiam o inferno, enfurecendo o diabo.
Por essa época, o rei Dario havia promovido Daniel ao posto mais elevado daquela terra. Daniel agora era um dos membros de um triunvirato, e governava sobre os príncipes e governadores de cerca de 120 províncias. A Bíblia até diz que Dario favorecia Daniel em relação aos outros dois co-presidentes. Ele nomeou Daniel encarregado de formar uma política de governo, instruindo os demais membros de seu escalão e os intelectuais: "...Daniel se destinguiu destes presidentes...e o rei pensava constituí-lo sobre todo o reino" (Daniel 6:3).
Obviamente, Daniel era um profeta atarefado. Ninguém poderia desempenhar tantas funções sem ser terrivelmente ocupado. Fico só imaginando os tipos de pressão colocados sobre este ministro, com sua programação e reuniões que gastavam tanto tempo .
Contudo nada afastava Daniel da sua hora de oração. A oração continuava sendo sua principal ocupação, e tinha prioridade sobre todas as demais questões. Em resumo, Daniel nunca estava ocupado demais para orar. Três vezes por dia ele dava uma saída de suas obrigações, de suas apreensões, das coisas que exigiam sua atenção como líder, para gastar tempo com o Senhor.
Daniel não tinha de consultar outros líderes "de sucesso" para aprender como cumprir o seu chamado. Não tinha de assistir cursos para aprender como ministrar às multidões sob seu cuidado. Daniel recebia toda sabedoria, orientação, mensagens e profecias enquanto estava ajoelhado.
Creio que Daniel é um exemplo para nós da importância de ter um ministério de oração nos tempos de crise. Vemos isso em seus primeiros anos, sob o governo de Nabucodonozor. Certa época, o rei teve um sonho perturbador que o deixou desnorteado, confuso e assombrado. Ele suplicou que seus videntes que lhe explicassem o sonho, mas ninguém conseguiu.
Isso enfureceu Nabucodonozor, e ele disse à corte: "Vocês só me trazem palavras tolas e vazias; ficam enrolando, tentando ganhar tempo. Mas quero a verdade. Quero respostas aos meus anseios mais profundos." Finalmente, decretou que todos os videntes fossem mortos - os astrólogos, os feiticeiros, os mágicos, até os "sábios", incluindo o jovem Daniel e seus três piedosos companheiros.
Quando Daniel soube da sentença de morte, fez uma reunião com os três amigos. Você pode ter certeza de que a reunião não foi para "congraçamento", ou estudar opções, ou motivar os outros judeus a trazerem planos de sobrevivência. Não, Daniel e os jovens hebreus sabiam que teriam ouvir diretamente do Senhor. Então se ajoelharam, e clamaram por Sua misericórdia e revelação.
Que incrível prece Daniel ofereceu a Deus: "Seja bendito o nome de Deus para todo o sempre, porque dele é a sabedoria e força; é ele quem muda os tempos e as horas, remove reis e estabelece reis; ele dá sabedoria aos sábios e conhecimento aos entendidos. Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com ele mora a luz" (Daniel 2:20-22).
Nesta época, a igreja do Velho Testamento tinha chegado à sua pior fase. O povo de Deus tinha perdido o cântico, o louvor fora silenciado, e agora estava sendo espiritualmente arrastado pela correnteza. A tremenda prosperidade de Babilônia tinha se agarrado ao coração de muitos. E certamente Satanás se alegrava com a situação de Israel. E então, para piorar, motivou Nabucodonozor a lançar a sentença de morte contra Daniel.
Agora todos israelitas sob cativeiro estavam olhando para Daniel. O futuro deles dependia da relação dele com Deus. E ficavam pensando: "Será que Deus ainda fala com as pessoas? Será que alguém é capaz de fazer a leitura dos tempos e saber o que está acontecendo? Quem pode discernir os segredos do Senhor?"
Daniel sabia exatamente o que estava ocorrendo. E poderia ter agido de inúmeras maneiras. Ele poderia ter organizado uma grande marcha à capital para pedir justiça aos judeus. Mas veja, o mundo e o inferno não se impressionam com multidões, números, demonstrações. E nem são impactados por mega-igrejas com seus edifícios majestosos e um enorme rol de membros. Não se agitam por causa de jovens ministros brilhantes e letrados que fazem pesquisa perguntando: "Que tópicos você gostaria que evitemos nos sermões? Como devemos lhe acomodar, para que você venha à igreja?"
Não - a única maneira de impactar este mundo é através de uma palavra que revele o pecado e exponha o coração. O mundo necessita ouvir a verdade pura do Espírito Santo, que golpeie os espertos e responda ao clamor do coração em dúvida.
Creio que o rei Nabucodonozor é o retrato da humanidade moderna, que clama: "Tenho poder e influência; tenho todo os bens materiais que poderia desejar - mas mesmo assim, não possuo paz. Faço perguntas, e preciso de respostas. E vocês, que dizem falar por Deus - ou seja, intelectuais, os partidários do ritualismo, até as pessoas do povo - se vocês não conseguirem responder ao clamor do meu coração, então não têm o direito de existirem. Não há propósito para vocês; são inúteis para a sociedade."
Estive em Dallas recentemente, e visitei uma congregação dita "igreja comunitária". O culto foi tão informal, que ficou irreverente ao extremo. As pessoas ficavam bebendo refrigerantes e mastigando biscoitos, enquanto as crianças corriam como loucas.
O culto começou com uma brincadeira cômica, sobre como comprar um carro. A seguir, a equipe de louvor entoou umas músicas "ambíguas" - canções de amor que se pode cantar para a namorada. Finalmente, o pastor, com doutorado em teologia, entrou com uma pequena tira de papel nas mãos, contendo toda a sua mensagem. Falou dez minutos sobre como gostar do emprego.
Este ministério tinha se iniciado através de uma pesquisa na vizinhança, que perguntava o que as pessoas gostariam de ter na igreja. Como resultado, os cultos foram planejados para terem uma natureza totalmente desprovida de confrontações. Porém, olhando em torno pela congregação, via homens e mulheres que obviamente tinham problemas profundos que precisavam de respostas. Os adolescentes se mostravam enfadados. Meu coração se partiu por estas pessoas. Todos ali precisavam de uma palavra dos céus, contudo só recebiam palha. Por que? Porque os homens do púlpito estavam sendo evasivos, porque haviam perdido o contato com Deus.
Quando o dedo do julgamento de Deus ficar claro para este país, as pessoas vão deixar de procurar pregadores da prosperidade que vivem dizendo: "Está tudo indo bem." Pelo contrário, elas vão reagir como os israelitas, ou seja, buscarão pessoas como Daniel, pessoas piedosas que saibam fazer a leitura dos tempos.
Em Daniel 5 Belsazar, filho de Nabucodonozor, ocupava o trono. Este rei pagão promoveu um enorme banquete para mil de seus governantes. No auge da bebedeira, o rei mandou os servos trazerem os vasos de ouro e de prata que tinham sido tirados do templo judeu em Jerusalém. Logo depois os governantes de Belsazar, as esposas e concubinas bebiam de maneira insana destes vasos que haviam sido consagrados.
De repente, de modo sobrenatural os dedos da mão de um homem aparecem durante o banquete e começam a escrever uma mensagem na parede. Era um aviso de que o julgamento estava às portas. As escrituras dizem: "Então se mudou o semblante do rei, e os seus pensamentos o turbaram; as juntas dos seus lombos se relaxaram, e os seus joelhos bateram um no outro. Ordenou o rei em alta voz que se introduzissem os encantadores, os astrólogos ...e disse o rei aos sábios de Babilônia: Qualquer que ler esta escritura, e me declarar a sua interpretação, será vestido de púrpura, e trará uma cadeia de ouro ao pescoço, e será, no reino, o terceiro dominador...Então o rei Belsazar perturbou-se muito ...Os seus grandes estavam sobressaltados" ( Daniel 5: 7-9).
Que cena de terror. Contudo, devo lhe dizer, muito em breve a próspera América vai passar pelo mesmo choque. O escrito está na parede agora, e sem dúvida o julgamento está às portas. Como Belsazar os líderes de nossa nação ficarão sobressaltados, seus semblantes mudarão, seus joelhos tremerão.
No entanto, apesar disso, os ministros em nosso país estão pregando uma falsa paz. Por todo o país pastores condescendentes declaram que Deus nunca rebaixará a América pelo fato de enviarmos tantos missionários ao mundo. Contudo, estes pregadores não mencionam que o julgamento será óbvio porque matamos 40 milhões de bebês pelo aborto. Quando a escrita aparecer na parede, esses pregadores vão perder a fala. Eles já "perderam o rumo" - pois Deus só revela Sua sabedoria a homens de oração.
Digo aos pastores: Deus o livre de não ser um homem de oração. Nestes tempos de corrupção e prazeres, você precisa se trancar com o Senhor. O que vai fazer quando a escrita de Deus aparecer, e os membros da igreja pedirem que você interprete os tempos? Quantas piadinhas você contará do púlpito então? Como vai responder, quando interromperem seus sermões e gritarem: "Por favor, pastor, diga o que está acontecendo. O que está acontecendo nesses dias é julgamento? O que virá a seguir? Por que o senhor não nos preveniu? O senhor dizia que estava tudo correndo bem - mas perdemos tudo".
Fico chocado com o que as pesquisas de opinião dizem sobre as motivações das pessoas para poderem ir à igreja. Cultos "modernos" podem parecer funcionar agora, na hora da prosperidade. Mas veja o que acontecerá quando o dedo de Deus aparecer, e as contas bancárias chegarem á lona, os filhos se envolverem com drogas, e a família se destruir. As ovelhas não vão querer ouvir pregações melosas. Vão desejar a verdade, pura e cristalina.
A corte de Belsazar tremeu diante da súbita mudança nos acontecimentos. Ninguém sabia o que estava acontecendo. De repente a bebedeira parou. E, enquanto o rei tremia, alguém disse: "Há no teu reino um homem que tem o espírito dos deuses santos...se achou neste Daniel...conhecimento, inteligência, interpretação de sonhos, explicação de enigmas e solução de dúvidas..." (Daniel 5:11-12).
Então Belsazar chamou Daniel, e disse ao profeta algo assim: "Nenhum destes sábios conseguiu dizer coisa alguma; não conseguiram interpretar o escrito na parede. Mas ouvi que você consegue discernir os tempos. Por favor, diga-me a verdade, e acabe com as minhas dúvidas" (ver 5:16).
Quando Daniel falou, ele não adoçou a pílula. Ele havia estado ajoelhado e sabia exatamente o que aquelas pessoas precisavam ouvir. Então disse assim: "...tu...Belsazar, não humilhaste o teu coração...levantaste-te contra o Senhor do céu...Contou Deus o teu reino, e o acabou...pesado foste na balança, e foste achado em falta" (5:22,23; - 26,27).
Era esse o tipo de verdade não contaminada que Belsazar e seus príncipes queriam ouvir. Era a verdade que podia tirar suas dúvidas, porque lhes dizia exatamente onde se encontravam. Na verdade, Belsazar ficou tão grato, que nomeou Daniel para ser o governador maior do reino.
Então, por favor não me diga que os não convertidos não desejam mensagem convincente e direta. Não é assim!
Toda pessoa que ora sofre o açoite do inferno. E Satanás vai fazer tudo que puder para calar suas preces. Daniel já tinha provado a eficiência de sua oração sob Nabucodonozor e Belsazar. Agora, no reinado de Dario, Satanás inicia uma grande conspiração para calar as orações de Daniel. As orações do profeta tinham sacudido tanto o inferno, e o diabo ficou tão enfurecido, que organizou o governo inteiro da Babilônia contra ele.
Lembre-se, Daniel tinha sido colocado acima de todos os outros líderes do país; e esses políticos viam em Daniel sabedoria, respeito e uma preferência que os deixava com inveja. E agora então, conspiram contra ele: "Então os presidentes e os sátrapas procuravam achar ocasião contra Daniel a respeito do reino, mas não podiam achar ocasião ou culpa alguma, porque ele era fiel, e não se achava nele nenhum vício nem culpa" (Daniel 6:4).
Daniel era inculpável, então os líderes da Babilônia não conseguiam lhe pegar em nenhum pecado. Finalmente concluíram que a única maneira de chegar ao profeta seria através do caminhar que ele tinha com Deus. Disseram: "Nunca acharemos ocasião alguma contra este Daniel, se não a procurarmos contra ele na lei do seu Deus" (6:5). Quisera Deus que isso pudesse ser dito sobre nós hoje em dia.
Esses líderes sabiam que Daniel orava em direção a Jerusalém três vezes por dia. E atribuíam a preferência de que desfrutava às orações. Então executaram um plano para acabar com a oração. Como? Acredito que ficaram tentando ocupar o tempo de Daniel com atividades. Os co-presidentes procuravam lhe envolver em negócios importantes, do governo, para que não tivesse tempo de orar.
Amado, esse é um dos principais artifícios que Satanás usa contra todos os crentes. E é uma conspiração que prevalece especialmente no meio dos pastores. Se você perguntar a um pastor por que ele não ora, ele provavelmente dirá que não tem tempo. As obrigações de pastor lhe consomem tanto, que ele tem de usar todo o tempo que sobra para preparar os sermões.
A maioria dos cristãos cai na mesma tentação. Dizem: "O meu tempo é muito curto para eu orar. O trabalho me consome todo o tempo". Até as donas de casa afirmam: "Não tenho um minuto no dia para orar. Quando eu consigo vestir as crianças, deixar a casa limpa e preparar as refeições, o tempo acabou."
O filósofo Soren Kierkegaard se referiu às ocupações do cristão como sendo um narcótico. Ele observa que elas levam à uma propensão à dualidade mental. Ele diz que à medida que as pessoas se aprofundam em suas ocupações e negócios, o amor delas pela verdade é relegado ao esquecimento. Aí, com os estímulos intensos de suas atividades e a progressiva necessidade de tempo, torna-se impossível para elas entenderem o perigo em que entraram. Elas possuem o espelho da palavra de Deus, mas não conseguem se aquietar o tempo suficiente para verem o que ela reflete.
Acho que a pessoa ocupada que raramente ora, está pior do que aquela que tem uma doença grave. Por que? Porque progressivamente ela se adapta à situação. E com o tempo, ora cada vez menos e se torna cada vez menos consciente de Deus. Até que suas convicções se esvanecem, e as perde totalmente.
Daniel sabia que não conseguiria ficar um dia sem orar. Então continuou orando, mesmo seus colegas lhe jogando mais atribuições. Você conhece a história - finalmente conseguiram um decreto determinando a suspensão de toda oração por trinta dias. Era uma lei dirigida unicamente a Daniel. Porém, mesmo então, Daniel não suspendeu suas orações que sacudiam o inferno - e acabou na cova dos leões.
Pode-se imaginar o que teria motivado Daniel a orar com tanta intensidade. O que o levou a continuar orando, mesmo com um decreto de morte dirigido contra sua cabeça? Por que este homem de oitenta anos iria continuar derramando o coração junto ao Senhor com tanto fervor, quando o resto da igreja não buscava mais a Deus?
Pense no enorme esforço que Daniel teve de fazer para se dedicar à oração. Afinal de contas, ele morava na Nova York do seu tempo: na enorme, majestosa e rica Babilônia. E vivia num tempo de apatia espiritual - de bebedeiras, de busca de prazeres e de ganância no meio do povo de Deus. Além disso, era um líder atarefado com distrações por todos os lados.
Quero lhe dizer o seguinte: a oração não é algo que venha naturalmente à pessoa alguma, inclusive a Daniel. Um horário disciplinado para oração é fácil de começar, mas difícil de continuar. Tanto a nossa carne quanto o diabo conspiram contra ela. Então, como nos tornamos homens de oração?
Em Jeremias 5, Deus pede: "Dai voltas às ruas de Jerusalém...buscai pelas suas praças. Se achardes alguém que pratique a justiça e busque a verdade, eu perdoarei a esta cidade" (Jeremias 5:1). O Senhor estava dizendo basicamente: "Terei misericórdia, se encontrar pelo menos uma pessoa que me busque".
Deus havia abençoado e protegido totalmente este povo. Mesmo assim, continuavam passando todos os limites da moralidade, cometendo adultério e relacionando-se com meretrizes. Além disso, não sofriam mais com o pecado, e rejeitavam a correção. Então Deus procurou pelo menos um homem de oração, de coração quebrantado, para que este intercedesse - mas não conseguiu achar nenhum.
Ezequiel 23 descreve uma tragédia semelhante. Os profetas e os sacerdotes de Israel tinham se transformado em lobos vorazes. Enriqueciam às custas dos humildes inocentes, e roubavam dos pobres e das viúvas. Profanavam a santidade de Deus, não vendo nenhuma diferença entre o puro e o impuro. Fechavam os olhos para o pecado, e pregavam mentiras declarando de maneira falsa: "Assim diz o Senhor."
Deus em vão implora que pelo menos um homem se posicione contra isso: "Busquei entre eles um homem que levantasse o muro, e se pusesse na brecha perante mim por esta terra, para que eu não a destruísse, mas a ninguém achei" (Ezequiel 22:30).
Contudo, durante o cativeiro na Babilônia Deus encontrou este homem em Daniel. E hoje, mais do que nunca na história, Deus está procurando o mesmo tipo de homens e mulheres piedosos. Ele busca servos fiéis que queiram "levantar o muro" e se "pôr na brecha", coisas que só podem ser conseguidas com oração.
Como Daniel, essa pessoa será encontrada com a palavra de Deus na mão. Quando o Espírito Santo veio sobre Daniel, o profeta estava lendo o livro de Jeremias. Foi aí que o Espírito revelou que o tempo da libertação de Israel tinha chegado. Diante desta revelação, Daniel foi levado à oração: "Dirigi o meu rosto ao Senhor Deus, para o buscar com oração e rogos, com jejum, pano de saco e cinza. Orei ao Senhor meu Deus" (Daniel 9:3-4).
O Espírito de Deus está procurando pelas nações do país, pelos escritórios dos pastores, em busca dos que se aprofundam com diligência na palavra. Servos deste tipo não estão simplesmente procurando conhecimento bíblico; estão em busca do poder espiritual, da mortificação do pecado, da verdade que liberta. Eles vêem claramente o que está acontecendo pela terra, pois identificam isso a partir da palavra de Deus. Uma vez o Senhor tendo encontrado tais pessoas, Ele as abençoa com um espírito de oração.
Daniel certamente ficou entusiasmado quando entendeu que havia chegado a hora de Deus restaurar o Seu povo. Mesmo assim, quando viu a situação espiritual de Israel, o profeta se consternou. O povo estava se saciando com os pecados de Babilônia - buscando prazeres e prosperidade, afastando-se dos padrões morais que antes abraçavam.
Daniel sabia que o povo de Deus não estava preparado para receber Sua restauração. Ainda assim, será que o profeta ficou fustigando seus compatriotas por causa do pecado? Não - Daniel se identificou com a decadência moral que o cercava. Ele declara: "pecamos e cometemos iniquidade...a nós pertence a confusão do rosto...porque pecamos contra ti" (Daniel 9:5,8).
Creio que o mesmo sucede com a igreja de Jesus Cristo dos dias de hoje. Não estamos em condições de responder ao desejo que Deus tem de realizar uma grande obra de reavivamento em nós. Tal como Israel, ficamos contaminados pelos pecados de nossa sociedade corrupta. Veja isso:
Uma lei na Califórnia torna obrigatório que a escola primária ensine que o homossexualismo é um estilo de vida alternativo permitido. A bebedeira se disseminou das faculdades para os cursos de segundo e de primeiro grau. E a internet se transformou numa super-estrada para a pornografia. Há quase trinta anos atrás, previ em meu livro "A Visão" (The Vision) que uma caixa eletrônica traria formas vis de pornografia para dentro dos nossos lares (Video Cassette). Hoje, 90 por cento das atividades na Internet envolvem pornografia.
Em resumo, vivemos numa Babilônia moderna. E tragicamente, os cristãos adotaram o estilo cheio de pecado da sociedade. O nosso ministério sempre recebe cartas de esposas de cristãos dizendo: "Eu sentia meu esposo se afastando de mim, e não sabia o porquê. Aí abri a porta do seu escritório e o peguei olhando com lascívia a pornografia da internet."
Os jovens em particular são presa fácil para a sedução de Satanás. Multidões de jovens cristãos estão baixando arquivos de música perniciosa pelo site da Napster. Sei de uma mãe cristã que entrou num curso de informática para descobrir o que o filho adolescente estava baixando. Quando entrou nos arquivos do computador, ficou horrorizada: eram músicas do assassino Charles Manson; músicas falando de matar policiais; músicas falando de morte, suicídio e de todo tipo de promiscuidade sexual.
Deus deseja intensamente abençoar o Seu povo nestes dias - contudo se nossas mentes estão poluídas pelo espírito deste mundo, não estaremos em condições de recebermos Suas bênçãos.
Daniel fez uma declaração forte: "todo aquele mal nos sobreveio: apesar disso, não suplicamos à face do Senhor nosso Deus, para nos convertermos das nossas iniquidades, e para nos aplicarmos à tua verdade. Por isso, o Senhor vigiou sobre o mal, e o trouxe sobre nós" (Daniel 9:13-14).
Daniel estava dizendo: "Vimos a degradação da nossa terra. E vimos nossos pastores buscando seus próprios interesses; toda a sociedade correndo para a destruição. Mesmo assim, não nos voltamos para a oração. Se pelo menos orássemos, Deus nos teria tirado do pecado. Ele inclusive ficou aguardando nossa reação, fazendo promessas gloriosas para nos libertar. Mas nós não demos tempo para Ele. Pelo contrário, fomos nos desviando cada vez mais dEle, nos saciando nos pecados da sociedade ímpia. É por isso que Seu julgamento caiu sobre nós."
Você pode perguntar: qual é a oração que sacode o inferno? É aquela que vem do servo fiel e aplicado, que vê seu país e sua igreja caindo cada vez mais no pecado. Ele se dobra sobre os joelhos, chorando, "Senhor, não quero ser parte do que está acontecendo. Permita que eu seja um exemplo do Teu poder salvador no meio deste século corrupto. Não importa se ninguém mais ora. Eu vou orar."
Daniel conclui dizendo: "estando eu...ainda falando na oração, o homem Gabriel...me instruiu, e me disse: Daniel, agora vim para fazer-te entender o sentido...és muito amado" (Daniel 9:21-23).
Onde está o povo de oração na casa de Deus hoje? Onde estão os pastores fiéis que buscam o Senhor dia e noite? São esses que receberão a instrução e o entendimento, porque são muito amados.
Tal como Daniel, esses servos se identificam com os pecados da nação e da igreja, e o confessam. E clamam, em humildade: "Ó Senhor, mostre onde me desviei, onde sou achado em falta. E me ajude a enfrentar e a tratar disso. Custe o que custar, Deus, faça com que eu continue ajoelhado. Desejo ardentemente Te ver restaurando Tua igreja."DEUS NOS GARANTE VITÓRIA ATRAVÉS DA ORAÇÃO

quinta-feira, 10 de março de 2011

TEOLOGIA DA SUBSTITUIÇÃO



TEOLOGIA DA SUBSTITUIÇÃO









Teologia da Substituição



O que é a teologia da substituição?
A Teologia da Substituição é um enfoque sistemático enganoso da Bíblia, que não apenas tem desviado milhões de cristãos ao longo dos anos, mas tem também originado o mal nas mais terríveis proporções. Essa teologia teve sua participação na perseguição aos Judeus pela Igreja através dos séculos, incluindo o Holocausto, e foi também o pensamento teológico que pairava por trás do pesadelo do apartheid. A Teologia da Substituição declara que Israel, tendo falhado com Deus, foi substituída pela Igreja. A Igreja é agora a verdadeira Israel de Deus e o destino nacional de Israel está para sempre perdido. A restauração do moderno Estado de Israel é, assim, um acidente, sem nenhuma credencial bíblica. Os cristãos que crêem que tal restauração é um ato de Deus, em fidelidade à sua aliança estabelecida com Abraão cerca de 4000 anos atrás são considerados enganados. Esta é a posição básica dos adeptos dessa teologia. Erros de pensamento:
A) - O método de interpretação alegórico: a Teologia da Substituição efetivamente mina a autoridade da Palavra de Deus pelo fato de que ela repousa sobre o método alegórico de interpretação. Isto é, o leitor da Palavra de Deus decide espiritualizar o texto mesmo que o seu contexto seja literal. Isto efetivamente rouba a Palavra de Deus de sua própria autoridade e o significado do texto fica inteiramente dependente do leitor. A Palavra de Deus pode assim ser manipulada para dizer qualquer coisa! Assim, a Teologia da Substituição apoia-se na falsa base da interpretação bíblica. B) - Entendimento inadequado da Aliança: a Teologia da Substituição é apenas sustentada por aqueles que não entenderam apropriadamente a natureza da aliança abraâmica. Esta aliança é primeiramente mencionada em Gênesis 12:1-4 e depois disso repetidamente asseverada e confirmada aos patriarcas. Essa aliança é a aliança da graça pois ela inclui a intenção de Deus de redimir o mundo todo. Deus diz a Abraão: "Em ti todas as nações do mundo serão benditas. A Aliança Abraâmica é uma aliança com três elementos vitais:
1) - Ela declara a estratégia de alcançar o mundo através da nação de Israel. 2) - Ela lega uma terra como uma possessão eterna à Israel. 3) - Ela promete abençoar aqueles que abençoarem a Israel, e amaldiçoar aqueles que a amaldiçoarem.
É importante que notemos aqui que se um elemento da aliança falhar então todos os elementos também falharão. Assim, se as promessas de Deus para Israel já tiverem falhado, então igualmente devem ter falhado as promessas dEle de abençoar o mundo. Se o destino nacional de Israel foi perdido através de sua desobediência, então a Igreja também está arruinada! A desobediência da Igreja tem sido tão grande quanto a de Israel nos últimos 2000 anos. Ninguém pode negar isto! Paulo enfatiza este mesmo ponto quando ele escreve: "E digo isto: Uma aliança já anteriormente confirmada por Deus, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não a pode ab-rogar, de forma que venha a desfazer a promessa. Porque, se a herança provém de lei, já não decorre de promessa; mas foi pela promessa que Deus a concedeu gratuitamente a Abraão." (Gál 3:17-18). De acordo com os teólogos da substituição, esta aliança foi anulada. Somente uma compreensão inadequada e superficial da aliança pode levar à tal conclusão enganosa. As promessas à Israel nacional são constantemente reafirmadas pelos profetas. Desta forma, Ele enfatiza a natureza de seu caráter e confirma a aliança abraâmica. Um exemplo disto é Jeremias 31:35-37: "Assim diz o Senhor, que dá o sol para a luz do dia, e as leis fixas à lua e às estrelas para a luz da noite, que agita o mar e faz bramir as suas ondas; o SENHOR dos Exércitos é o seu nome. Se falharem estas leis fixas diante de mim, diz o SENHOR, deixará também a descendência de Israel de ser uma nação diante de mim para sempre. Assim diz o SENHOR: Se puderem ser medidos os céus lá em cima, e sondados os fundamentos da terra cá em baixo, também eu rejeitarei toda a descendência de Israel, por tudo quanto fizeram, diz o SENHOR." Assim, novamente, o fato de que o sol, a lua e as estrelas ainda estejam conosco confirma a contínua validade da aliança abraâmica e, como resultado, o destino nacional de Israel. Para que a teologia da substituição seja válida, o sol e a lua devem também ser apagados. A teologia da substituição zomba do caráter de Deus pois ela repousa sobre a premissa de que se você falhar com Deus de qualquer maneira, Ele irá te descartar... mesmo que inicialmente Ele tenha te asseverado que a Sua aliança com você é eterna. Isto soa como uma resposta tipicamente humana e não como a do Deus da Bíblia. Que nós tenhamos forte encorajamento De acordo com o leitor do livro de Hebreus, sabemos que Deus será fiel conosco, porque apesar da desobediência de Israel, Ele manteve fidelidade para com ela. Falando da aliança abraâmica ele diz: "Por isso Deus, quando quis mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu propósito, se interpôs com juramento, para que, mediante duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, forte alento tenhamos nós que já corremos para o refúgio, a fim de lançar mão da esperança proposta; a qual temos por âncora da alma, segura e firme, e que penetra além do véu, aonde Jesus, como precursor, encontrou por nós, tendo-se tornado sumo sacerdote para sempre. segundo a ordem de Melquisedeque." (Hb 6:17-20). Note novamente que podemos saber que Deus é fiel pelo fato de Ele ter sido fiel para com Israel em tudo que Ele lhe prometeu. De fato, esta é a âncora de nossa alma.
1) - Deus não abandonou a nação ou o povo de Israel.
2) - Canaã é a terra de Israel até o dia de hoje.
3) - A Igreja não substituiu a Israel, mas a aumentou.
" E se alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar deles, e feito participante da raiz e da seiva da oliveira, Não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti. - RM 11:18
4) - A restauração moderna de Israel é evidência da fidelidade de Deus às Suas promessas e é também um forte encorajamento à Igreja.
5) - A restauração de Israel culminará no governo vindouro do Messias. Portanto, a Igreja no mundo é capaz de preparar-se e de abençoar a Israel tanto quanto ela puder.
6) - A restauração de Israel à sua terra natal é o primeiro passo em direção à redenção de Israel.

Para terminar, seria bom que notássemos uma citação do Bispo de Liverpool, o Rev. J.D. Ryle: "Eu aviso que, a menos que vocês interpretem a porção profética do Velho Testamento com um significado literal simples de suas palavras, vocês não acharão ser algo fácil manter uma discussão com um judeu. Você se atreverá a dizer a ele que Sião, Jerusalém, Jacó, Judá, Efraim e Israel não significam o que eles parecem significar, mas significam a Igreja de Cristo?"

Gloria e honrra seja para sempre ao nosso Deus, ao seu filho; Jesus Cristo, nosso Senhor e salvador, ao Espírito Santo que nos  ensina e nos guia. Amém.




domingo, 30 de janeiro de 2011

Seguir Jesus: O mais fascinante projeto de vida













"[Jesus] dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia após dia tome a sua cruz e siga-me".


Jesus Cristo nos chama a segui-lo. Tal convite não pode ser respondido com um mero levantar de mão em cruzadas evangelísticas. Falo como evangelista acostumado a este fenômeno: milhares de mãos se levantando, respondendo sim ao apelo de seguir Jesus. Na realidade, pode ser que o gesto seja o primeiro de uma sucessão benéfica que inclua: apertar a mão de irmãos, lavar os pés dos santos, enxugar lágrimas a aflitos, dar água e pão aos pobres, curar as feridas dos flagelados, impor as mãos sobre os doentes ou uni-las em oração e prece. Se este for o processo, então aquele gesto foi válido. No entanto, se não propiciar tal fluxo de vida e sucessão de atos, não passou de coreografia de trabalho religioso, ilusão para os servos da idolatria estatística e fantasia para os que pretendem povoar o céu a partir da graça barata.


Seguir Jesus não é ser modelado dentro do apertado terreno dos condicionamentos psicológicos, culturais e religiosos dos nossos guetos evangélicos. Entre nós a conversão é muitas vezes um fenômeno de mimetismo, não o nascer de uma nova criatura. A conversão não é, na nossa superficial e freqüentemente hipócrita cultura evangélica, a assimilação de chavões, palavras, gestos feitos, tom de voz e indumentária própria. Não tenho medo de ser julgado. O que disse está dito, pois conheço a igreja de Cristo no Brasil e sei que ela precisa ser liberta da religiosidade que por vezes Jesus odiou e reprovou.


Discipulado também não é apenas vida moral e social ajustada. Pagar as contas em dia, lavar o carro todo sábado, levar os filhos ao parque, sair para jantar uma vez por semana com a esposa, ser bom vizinho e ótimo profissional não é tudo sobre discipulado. Esta vida certinha ainda está dentro do ordinário. O discipulado está no nível do extraordinário.


Seguir Jesus extrapola os melhores hábitos. É ir tão mais além que desajuste os certinhos e desinstale os irremovíveis e plantados no seguro terreno da vida acomodada. Discipulado é vida para nômades. É existência para aqueles que confessam que todo país estrangeiro pode ser sua pátria e que o planeta Terra não é seu lugar de repouso, porque aspiram à Pátria Superior. Ser discípulo é ter tanto a disciplina quanto a criatividade das ondas do mar. Disciplina porque as ondas são ordenadas e têm princípios. Criatividade, porque elas existem dentro de uma dinâmica: cada onda é diferente da outra.


Neste sentido, seguir Jesus é obedecer a princípios imutáveis, mas é também ser livre como as ondas do mar. Um discípulo, ao mesmo tempo que vive obediente a Deus, descobre a pessoa dinâmica que deve ser, conforme a expressão da sua inerente potencialidade e mediante os variados dons espirituais que a graça de Deus acrescenta à vida de cada cristão.


Em razão das afirmações anteriores e de muitas outras ainda não apresentadas é que Jesus diz que o discípulo é um ser livre. O discípulo é um ser livre Cristo não esmaga a cana quebrada e nem apaga a torcida que fumega. Ele não violenta o coração. Não faz apelos emocionalmente irresistíveis. Não coage a alma humana. Não faz lavagem cerebral. Seu convite ao discipulado começa com um "se alguém quer".


O homem deve analisar se deseja segui-lo. Ninguém é forçado a aceitar. O candidato ao discipulado tem que se sentir em liberdade, pois Jesus mostra que há opções. Todavia, a opção para fora do discipulado é morte, escravidão, gemido e náusea.


No discipulado há uma lei básica: a pessoa é livre para tudo, só não é livre para deixar de escolher. O candidato a ele é escravo da sua liberdade. Mas é tão livre que pode até escolher ser escravo. O discípulo é alguém que quer. Deus criou o homem não apenas com o livre arbítrio mas também com o poder de arbitrar. Por isso Jesus afirma que o discípulo tem que ser alguém que quer. Se alguém quer, é como inicia o convite.


O seguidor de Jesus deve saber o que quer, porque o discipulado sempre exige uma de-cisão. Algumas decisões não são de-cisões. No discipulado, no entanto, não raramente as tomadas de posição implicam rupturas, fraturas emocionais, psicológicas, familiares, sociais e até econômicas.


O discípulo tem que saber o que quer, porque dele é exigido que abra mão de valores, a fim de se apoderar do Reino de Deus: "O reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem, tendo-o achado, escondeu. E, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem, e compra aquele campo. Não se trata de salvação pelas obras, mas de entender e aceitar os custos da descoberta, da REVELAÇÃO. O tesouro valia mais do que o campo. Logo, quem comprou o campo, ganhou o tesouro de graça. Assim é no Reino de Deus: a salvação (tesouro) é de graça, mas o discipulado (campo) tem um preço. Há valores a serem trocados; há um custo a ser pago".


Isto porque o Reino dos Céus é a única realidade duradoura, e o seu valor é incalculávelmente precioso. Por isso a pessoa realmente desejosa de receber os resultados positivos da vida no Reino dos Céus, uma vez confrontada com ele, prontamente, e cheia de alegria, fará o sacrifício que for necessário, seja a perda de amizades, bens, posição, ou inclusive da própria vida.


Todavia deve-se saber que quando a grande alegria, que supera toda medida, toma conta da alma, ela arrebata, atinge o mais íntimo, supera a compreensão. Tudo fica pálido e sem brilho diante do brilho do Reino dos Céus. Nenhum preço parece alto demais diante desse tesouro. A entrega precipitada e irrefletida do que há de mais precioso torna-se a evidência mais clara disso. Diante do Reino entrega-se tudo porque se fica arrebatado diante da grandeza do achado. A boa-nova da sua irrupção arrebata, gera a grande alegria, orienta toda a vida para a consumação da comunhão com Deus, opera a entrega apaixonada. Faz com que a perda seja ganho. Transforma o sacrifício em festa. Faz da troca de valores o melhor negócio.


Deve ainda o discípulo ter a coragem de aceitar que sua conversão pode dividir a família. É possível que haja uma de-cisão na sua casa. Pode surgir uma guerra emocional e religiosa do pai incrédulo contra o filho convertido, ou do filho rebelde contra o pai arrependido; da mãe beata contra a filha que mudou de religião, ou da filha renitente contra a mãe recém-convertida; da sogra falante contra a nora humilde, ou da nora avançada contra a sogra considerada quadrada por causa de Jesus.


O discípulo deve saber que seus inimigos poderão ser os da sua própria casa. Deve, no entanto, estar informado de que no Reino de Deus existe o milagre da multiplicação dos relacionamentos interpessoais e dos privilégios sociais: "Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou mãe, ou pai, ou campos, por amor de mim e por amor do evangelho, que não receba já no presente o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e no mundo por vir a vida eterna - ver também que a Cruz gera nova família.


É indispensável ainda que o discípulo saiba o que quer, porque a vida de um seguidor de Jesus é comparável à de um sentenciado à morte: ele pode morrer de morte violenta ou não, mas, em qualquer dos casos, existe morrendo para poder morrer vivendo. Quem quiser preservar a sua vida, perdê-la-á; e quem perder, de fato a salvará. No Reino de Deus convive-se com o paradoxo de que achar a vida é perdê-la, e perder a vida por Jesus é achá-la.


Esta opção de vida leva o seguidor de Jesus a uma disposição de limitar-se tanto quanto necessário: "Se tua mão te faz tropeçar, corta-a; pois é melhor entrares maneta na vida do que, tendo as duas mãos, ires para o inferno, para o fogo inextinguível (onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga). E se teu pé te faz tropeçar, corta-o; é melhor entrares na vida aleijado do que, tendo o dois pés, seres lançado no inferno (onde não lhes morre o verme nem o fogo se apaga). E se um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-o; é melhor entrar no Reino de Deus com um só dos teus olhos do que, tendo os dois, seres lançado no inferno". Este modo de vida exige espírito voluntário. Entretanto, no texto onde Jesus ensina maneiras de se imporem limites, raia a luz da mais intensa expansão e liberdade. A mão, pé ou olho amputado são do discípulo mas não são o discípulo. O cristão que se limita por causa do Reino de Deus continua inteiro, completo, pleno.


Outra surpresa diante da qual Jesus nos coloca é que essa aparente castração é o caminho para a verdadeira vida (a palavra vida aparece duas vezes no texto como resultado desses atos). Resta-nos a constatação de que aqueles que rejeitam essa limitação vão plenos para o inferno. E a última estranheza da sabedoria de Jesus é que aquele que se apodera de menos (mão), anda por caminhos menores (pés), e vê menos (olho), é quem vai se apoderar de mais; é quem entrará no céu e verá a glória de Deus no Reino eterno.


As implicações de cada uma dessas lições afetam os negócios, os sentimentos, os relacionamentos e as ambições do cristão. Não se trata de autoflagelação, mas de autolimitação não patológica produzida pela certeza de que tudo aquilo que faz tropeçar tem que ser evitado.


O discípulo, para aprender de Jesus, tem que ter a palavra do Mestre como o ponto de partida, o ponto de apoio, o ponto de referência, o ponto de vista e o ponto de chegada. "Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica, será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha". O discípulo tem que estruturar a sua vida única e exclusivamente sobre a Palavra de Deus. Não há outra base. Seus pontos de vista são os de Deus. Sua estrutura é a verdade do reino de Jesus. As opiniões próprias são sepultadas quando alguém se dispõe a ser um aprendiz do Mestre. Importa ter a mente de Cristo e não aceitar viver de outra maneira que não seja sobre as bases do ensino do Senhor.


Qualquer outra obsessão termina quando começa o discipulado. Nele só há lugar para a sadia obsessão do Reino de Deus. Nem afazeres, nem compromissos, nem qualquer relacionamento humano podem tomar o lugar e a importância do convite de Jesus. "Certo homem deu uma grande ceia e convidou a muitos. À hora da ceia enviou o seu servo para avisar os convidados: Vinde, porque tudo já está preparado. Não obstante, todos à uma começaram a escusar-se. Disse o primeiro: Comprei um campo e preciso ir vê-lo; rogo-te que me tenhas por escusado. Outro disse: Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-las; rogo-te que me tenhas por escusado. E outro disse: Casei-me, e por isso não posso ir. Voltando o servo, tudo contou ao seu senhor. Então, irado, o dono da casa disse ao seu servo: Sai depressa para as ruas e becos da cidade e traze aqui os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos. Depois lhe disse o servo: Senhor, feito está como mandaste, e ainda há lugar. Respondeu-lhe o senhor: Sai pelos caminhos e atalhos e obriga todos a entrar, para que fique cheia a minha casa. Porque vos declaro que nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia.


O consumismo e as ambições materiais têm que estar sob o completo domínio da sabedoria de Cristo para não sufocarem a Palavra de Deus no coração do discípulo. O cristão deve ser capaz de dizer como Wesley: "Desfaço-me do dinheiro o mais rapidamente que posso para que, porventura, ele não encontre o caminho do meu coração". Instalar a segurança da vida sobre as riquezas é dificultar a entrada no Reino de Deus. É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha.


Até mesmo algo tão significativo quanto a morte na família é menos urgente que o convite de Jesus. Enterrar o pai não é tão importante quanto pregar o Reino de Deus. O Mestre diz: "Deixa aos mortos o enterrar seus próprios mortos. Tu, porém, vai, e prega o Reino de Deus". O engajamento no discipulado é inadiável e intransferível. Há maior urgência em salvar vidas do que em sepultar os mortos. Este é, todavia, um princípio in extremis, para ser praticado diante da necessidade irresolvível de se fazer uma opção.


Seguir Jesus é caminho sem retorno. Pelo menos é assim que o candidato deve encarar. "Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás, é apto para o Reino de Deus". Não pode haver titubeio. Avançar é a única alternativa viável. O discípulo diz: "Esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação em Cristo Jesus".


O caminho com Jesus não conduz aos palácios, às mansões majestosas ou às alturas da glória do mundo. Seguir o Mestre leva mais facilmente ao desabrigo do que a um colchão d'água. É mais provável que vá dar em um pequeno apartamento do que em uma suíte presidencial. Não raramente as raposas e as aves encontrarão maior conforto e segurança domiciliar do que alguns engajados seguidores de Jesus. "As raposas têm os seus covis e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça. Diante de tais conclusões, um candidato ao discipulado desistiu do percurso existencial, social, econômico e espiritual da trajetória cristã. Ler o que Paulo declara sobre a vida dos ministros de Cristo, vivendo as mais sublimes expressões do Reino de Deus e as conseqüências de tais compromissos aos olhos do mundo, comprova a realidade desta afirmação: "Pelo contrário, em tudo recomendamo-nos a nós mesmos como ministros de Deus: na muita paciência, nas aflições, nas privações, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns, na pureza, no saber, na longanimidade, na bondade, no Espírito Santo, no amor não fingido, na palavra da verdade, no poder de Deus; pelas armas da justiça, quer ofensivas, quer defensivas, por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama: como enganadores e sendo verdadeiros; como desconhecidos, e entretanto bem conhecidos; como se estivéssemos morrendo e eis que vivemos; como castigados, porém não mortos; entristecidos mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo.


Sim, é indispensável que aqueles que pretendem seguir Jesus avaliem com coerência e seriedade o projeto de vida para o qual estão sendo convidados. Decididamente eles têm que querer. E querer mesmo. Este desejo deve ser mais forte do que a vontade de casar, ter um diploma de faculdade, ter filhos e inclusive ser feliz. (Não se está estimulando a abstinência ou a desistência de nenhuma dessas realidades; coloca-se apenas o desafio de que a ambição do discipulado esteja acima dessas ambições, não tendo, necessariamente, que ser extirpadas da vida.) Seguir Jesus deve ser o desejo supremo, a decisão mais importante. "Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular as despesas e verificar se tem os meios para a concluir? Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar, todos que a virem zombem dele, dizendo: Este homem começou a construir e não pôde acabar". Quem começa tem que acabar. A torre da vida não pode ser abandonada no meio do caminho. O fracasso de não concluir a obra tem um eco eterno. Prepare os seus contingentes morais, psicológicos e espirituais para enfrentar o inimigo nesta peleja. "Qual é o rei que, indo para combater outro rei, não se assenta primeiro para calcular se com dez mil homens poderá enfrentar o que vem contra ele com vinte mil? Caso contrário, estando o outro ainda longe, envia-lhe uma embaixada pedindo condições de paz".


Discipulado é como a escada de Jacó; só termina no céu. É obra a ser realizada durante toda a vida, sem feriados nem dias santos. Até dormindo tem-se que estar alerta. Diante de todas essas colocações é que fica clara a razão de o discípulo desejar o discipulado e estar decidido a seguir o Mestre.


Nos dias em que vivemos, quando a mensagem do Evangelho tem sido insípida e diluída, sem substância, talvez me julguem estar exagerando ou tentando direcionar os desafios de vida aqui expostos para uma classe de pessoas especialmente vocacionadas. Imaginam que os comerciantes, industriais, empresários, fiscais da Fazenda, políticos, advogados e gerentes de bancos estão isentos desse projeto de vida. Pensam: É possível que tal convite se dirija especificamente ao clero, à classe religiosa, aos pastores e obreiros, ou aos crentes muito consagrados. Acontece que a Bíblia não conhece essas distinções. Não há clero, laicato, pessoas de tempo integral e de tempo parcial, o grupo dos crentes simples e dos discípulos engajados. Jesus só tem uma categoria de seguidores: discípulos. Para estes, sua salvação é comum; sua vocação também; os privilégios, idênticos. Finalmente, a missão de cada um, modelada na missão do próprio Jesus, é a mesma para todos. Se convidamos as pessoas a seguirem a Jesus sem sermos honestos com elas, mostrando-lhes até onde pode levar a coerência desse estilo de existir em Cristo, estaremos sendo mercadores da Palavra de Deus, camelôs do Evangelho, não discipuladores que falam em nome de Cristo, na presença de Deus, com sinceridade e da parte do próprio Deus.


O segredo está em aprendermos a colocar todas essas coisas sem o peso do legalismo, do modismo da santidade aparente e do cosmético da pseudopiedade. É o amor de Cristo que nos constrange a viver dentro desse padrão. Trata-se de vida. E o que tem relação com a vida é natural. Cristo não nos chama para um desempenho teatral, mas para uma proposta de vida. E se o amor for a fonte propulsora dessa existência e a substância da alma de discípulo, seguir-lhe os passos torna-se algo natural. Em vista disso, quando um discípulo cai, Jesus apenas questiona seu amor: Tu me amas? Se me amas, então segue-me. O amor responde à altura do convite ao discipulado. O discípulo aprende humildemente.


O seguidor de Jesus não é nem um descobridor nem um pesquisador autônomo, mas apenas um aprendiz. Dele se requer que se limite a seguir a Jesus, aceitando que Cristo é o Absoluto dos absolutos, o Senhor dos senhores, o Rei dos reis, o Mestre dos mestres, o Tudo de todos. "Quanto a ti, segue-me".


Limitar-se a seguir a Jesus é limitar-se no Ilimitado; é deixar-se aprisionar pela Liberdade; é conter-se no Infinito. Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. "Permanecei, pois, firmes, e não vos submetais de novo a jugo de escravidão". Todavia, para viver nesse espaço moral, existencial, psicológico, social e espiritual, o discípulo tem que aprender a aceitar a disciplina. Um seguidor de Jesus sem disciplina é como argila sem modelador. É como a terra no princípio: sem forma e vazia; é bastardo, não filho, criado como rebelde nas esquinas da vida. Quando se fala em disciplina, fala-se em algo que "no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça". Uma das poucas maneiras contemporâneas de essa confrontação se dar, além de pregação, ensino e convívio franco com os irmãos, é quando se tem a capacidade de ler a Bíblia contra si mesmo.


Nesse andar após Jesus o discípulo precisa aceitar fortes repreensões. Deve ser capaz de ouvir: "Arreda Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus e, sim, das dos homens", sem escandalizar-se e sem ser tentado a abandonar a caminhada. Também aceita dramáticas lições sobre humildade na presença de todos, admitindo que os grandes no Reino são os pequenos, e os fortes e poderosos são os humildes. Descobre que no discipulado a ordem natural das coisas é subvertida. Aprende que a ética do mundo de Jesus é a contracultura da presente ordem das coisas, pois Cristo, chamando-o, diz: "Sabeis que os governadores dos povos dominam, e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós, será o vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos. Nesta conclusão, capta-se outra vez o "após mim" de Jesus na expressão "tal como o Filho do Homem".


O discípulo não pode ser cheio de melindres, um hipersensível, um não-me-toques, pois muito freqüentemente suas opiniões serão contraditas e as sugestões reduzidas a pó ante a realidade irreprimível do amor de Deus e do Absoluto que o Amor manifesta no Reino de Deus. Repressões ortodoxas feitas pelos discípulos têm que ser, não raras vezes, repensadas, assim como posições intolerantes e rabugentas reavaliadas, mesmo diante de crianças: "Trouxeram-lhe então algumas crianças para que lhes impusesse as mãos, e orasse; mas os discípulos os repreendiam. Jesus, porém, disse: Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis de vir a mim, porque dos tais é o reino dos céus".


O seguidor é aquele que anda após Jesus. Caso contrário, não é seguidor, é batedor. E nesse caminhar após Jesus os seus atos sectaristas e ortodoxos não raramente serão censurados em função da miopia espiritual da perspectiva do grupo que sempre acomete o discípulo. O aprendiz possui uma forte tendência a tornar-se um segregário, um sectário e um purista doutrinário. É capaz de, em nome da ortodoxia sem amor, proibir alguém de fazer o bem em nome de Jesus, somente porque não faz parte do seu grupo de discipulado. Tais atos fiéis são censurados por Jesus com uma lógica imbatível: "Não proibais; pois quem não é contra vós outros, é por vós". E assim como os atos vêm a ser facilmente questionados, as motivações que levam alguém a realizar a obra de Deus também não estão livres de censura. Muito facilmente o discípulo confunde zelo e fanatismo, fidelidade com legalismo, paixão com revanchismo e coragem com ódio. Jesus sempre questiona as motivações. Tão logo a pseudomotivação santa pretende trazer fogo do céu sobre homens, ele intervém: "Vós não sabeis de que espírito sois. Pois o Filho do homem não veio para destruir a alma dos homens, mas para salvá-la".


Concluindo, deve ficar claro que o lugar do discípulo é após Jesus, e como humilde aprendiz, pois a obra à qual ele é enviado a realizar não é um jogo de sortes e tentivas. Não pode ser escolhida, através de uma roleta-russa metodológica. O aprendizado para a obra de Deus dispensa os critérios de eliminação por erros. As instruções já estão dadas. Os perigos já estão apontados. Os métodos já estão definidos.


Surgiram em nossos dias alguns professores pardais da metodologia eclesiástica e evangelística. São os inventores de novas maneiras de evangelizar. Todavia, Jesus continua nos chamando para andarmos após ele. E nesse caminhar há liberdade para as devidas contextualizações e a criatividade inerente ao espírito humano. No entanto, critérios já estão definidos dentro da firmeza da Palavra de Jesus e com o aval do sucesso do seu ministério, cuja semente, morta, deu fruto em nossa vida.


Na concepção neotestamentária da formação do caráter cristão no interior do discípulo, a confrontação é uma estratégia indispensável. Paulo se refere ao fato de tal processo ser imprescindível na escola do aperfeiçoamento dos crentes: "o qual anunciamos, advertindo a todo homem e ensinado a todo homem perfeito em Cristo; para isso é que eu também me afadigo, esforçando-me o mais possível, segundo a sua eficácia que opera eficientemente em mim". Hoje não temos muitos discípulos, na plenitude do termo. Temos sim, dissidentes, gente que morde e que se morde, tão-somente recebam instruções, repreensões e questionamentos. Ainda não aprendemos o que significa o "vir após mim" de Jesus. E sem tal compreensão não há discipulado. O discípulo entrega os seus direitos a Deus e ao próximo.


A fórmula teológica, comportamental e psicológica através da qual Jesus traduziu essa afirmação é a seguinte: "A si mesmo se negue". Poucas verdades têm sido tão mal compreendidas quanto esta que se refere ao imperativo da autonegação. Em razão deste fato acho melhor começar dizendo o que não é autonegação. Corre no meio evangélico a idéia de que autonegação é aniquilamento da vontade. Contudo isso é falso. A volição é parte fundamental da estrutura sadia da psique humana. A pregação da aniquilação da vontade não é cristã, é budista. Em razão disto há milhares de cristãos vivendo num cristianismo doutrinário, com a interferência de uma espécie de budismo psicológico e existencial. Não me admira que tal conceito de autonegação tenha vindo de cristãos do Extremo Oriente, como Watchman Nee. Não resta dúvida de que o negar-se a si mesmo tem suas implicações na vontade humana. Entretanto, isto não deve diluir toda a vontade da pessoa.


Pela má compreensão dessa realidade há os que pensam que a autonegação acerca da qual Jesus falou é a antítese de tudo quanto possa se constituir em desejo. Neste caso, até a negação de si seria um desejo contra todo desejo natural. Alguns absolutizam tanto este conceito que chegam a incluir entre as vontades que devem ser golpeadas o desejo de pregar o Evangelho, declarando: Este desejo vem da alma. E com esta idéia vão budificando o Cristianismo, transformando seus seguidores em seres cujo ideal é a impessoalidade, a morte da pessoa, do desejo, da vontade e, por fim, da vida plena. Se têm desejo de ir à praia, se proibem: afinal, isto é uma vontade. Se sentem vontade de saborear determinada comida, negam-se. Afinal, isto é um desejo.


Também negar-se a si mesmo não é tornar-se um mórbido alienado, uma espécie de avestruz, com a cabeça enterrada no buraco da religião, pensando que assim pode se refugiar definitivamente do mundo. Alienação não é autonegação, mas suicídio intelectual, social e humano. É exílio da humanidade individual no cativeiro do escapismo religioso.


Outra faceta distorcida do convite de Jesus à autonegação é aquela que se expressa em termos de um meticuloso intimismo legalista. Esta maneira de entender o convite de Jesus transforma a alma em algo parecido a um loteamento de cemitério, onde muitas cruzes têm de ser fincadas a fim de se matarem as áreas vivas da alma. E isto não passa de uma negativa atitude castrante. Trata-se de uma autonegação que só se volta sobre si mesma. Paradoxalmente, vem a ser um autonegar-se egoísta. Negam-se para si mesmos, não apenas a si mesmos. Ninguém é beneficiado com tal atitude. E a vida se torna prisioneira, agrilhoada na cadeia psicológica da falsa perspectiva da autonegação.


A auto-anulação que não gera ação e obras altruístas em favor dos outros é apenas suicídio existencial e psicológico. É a repetição do isolamento dos mosteiros medievais na dimensão do santuário da alma humana. Esse negar-se a si mesmo só é sadio se implica um dar-se a si mesmo.


Autonegação não é automartírio. Não é arriscar desnecessariamente a vida. Não é autoflagelação, seja física, seja psicológica. Na perspectiva do negar-se a si mesmo não podemos nos esquecer de que Jesus veio para que tivéssemos vida e vida em abundância.


Negar-se a si mesmo também não é praticar exercícios ascéticos. Não podemos nos esquecer de que quem nos incitou ao negar-se a si mesmo foi Jesus de Nazaré, aquele que comeu sem lavar as mãos, freqüentou a casa dos fiscais de renda que recebiam propina, aceitou sentar-se à mesa com pecadores, e foi chamado de glutão e bebedor de vinho porque comia com alegria e entusiasmo.


Negar-se a si mesmo não é nada que vai além do projeto de vida de Jesus. Qualquer invenção de autonegação que não seja encontrada e praticada na vida de Jesus é doentia, patológica e sub-humana. Cristo é o protótipo da autonegação. Nele a autonegação não é incompatível com felicidade. Nele o negar-se a si mesmo admite a tensão existencial vivenciada por Paulo: "entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo". Quando o cristão pratica o verdadeiro negar-se a si mesmo é que o seu eu se purifica. E nesse processo morre não o ego, mas sim o ego-ísmo.


Além de ser promovida pelo dar-de-si, essa autonegação pode também ser resultado das pressões produzidas pelo estilo de vida do cristão: "Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos; levando sempre no corpo o morrer de Jesus para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal".


Negar-se a si mesmo é renunciar a tudo quando se tem, pois há muitos aspectos daquilo que somos mais fáceis de serem renunciados do que algumas coisas que temos. E mais: a autonegação envolve a renúncia da possibilidade de praticarmos o pecado moral e motivacional. No entanto, muito acima disso está o abrir-se inteiramente a Deus e ao próximo. Negar-se a si mesmo só faz sentido se for um negar-se por alguém que não seja o próprio eu. E as duas únicas categorias de existência consciente fora de mim para as quais preciso doar-me são Deus e o próximo. Assim, a autonegação do ponto de vista cristão se realiza na autonegação coincidente com uma reação altruísta.


Aceitar o convite de Jesus para segui-lo já implica, pois, o início desse processo, já que, para andar com ele, o discípulo tem que estar disposto a negar tudo, desde os bens materiais até os relacionamentos afetivos.


O discípulo nega-se a si mesmo Jesus traduz esta afirmação aparentemente contraditória com uma declaração original: Dia a dia tome a sua cruz. A proposta começa com a expressão dia a dia, o que significa a ausência de feriados, descanso e distração. Nessa declaração Jesus faz jungir sua proposta à ininterruptibilidade do fluxo da existência. É todo dia, em todo lugar e a toda hora, vinte e quatro horas por dia. O que nos faz lembrar o salmista: Até de noite o coração me ensina.


Tal apelo pervade todos os recônditos da experiência humana e faz do calendário do cristão uma via crucis. E nem sempre esta via crucis é uma via sacra. Alías, a via crucis coincide mais freqüentemente com a via secular, já que o dia-a-dia do discípulo é mais vivido no mundo - onde ele é sal e luz - do que na igreja - onde ele repousa e refrigera a alma.


Mais uma vez Jesus introduz no seu apelo ao discipulado o elemento vontade. Ele diz: Tome a sua cruz. E o texto estabelece uma sequência: A si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz. Isto significa que só depois de nos esquecermos de nós mesmos é que estaremos prontos e com vontade suficientemente forte para tomarmos a cruz. Estranho paradoxo: só depois de negar-se a si mesmo é que o discípulo tem a força necessária para autenticar-se no mais valoroso, altruísta e abnegado ato de vontade, ou seja, tomar a cruz. Note-se, porém, que a cruz a ser tomada já está preparada desde antes da fundação do mundo. O convite de Jesus é claro: Tome a sua cruz. A cruz é sua; é minha. Cada um de nós a tem, é somente carregando-a que nos tornamos aptos a praticar boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.


Ninguém pode fugir. Todo discípulo tem a sua. Cristão que não a tem não é cristão; é humanista, é bondoso, é caridoso, é qualquer outra coisa, menos discípulo. Cristo nos coloca diante do cotidiano desse levar a cruz, confronta-nos com a necessidade de a tomarmos livremente, e nos garante que cada um tem a sua própria. Contudo, precisamos ainda de alguns esclarecimentos. O que significa, de fato, esta cruz? Qual a sua natureza? Em que se caracteriza? Quais os seus propósitos? Usaremos uma estratégia já empregada e, antes de entrarmos no aspecto positivo da descrição do que seja carregar a cruz, definiremos o que não é carregá-la.


Carregar a cruz não é desventura. Não é azar. Não é ser pé-frio. Não é ter uma sogra insuportável ou um patrão impossível de com ele conviver. Também não é cair da ponte, escorregar da escada ou quebrar a cabeça. Não é sofrimento natural. Também não é sofrimento ocasional causado por circunstâncias desagradáveis que provém da incompatibilidade de gênios e temperamentos. Levar a cruz não é ser acometido de enxaqueca ou reumatismo, nem tem relação com artrite. Levar a cruz não é sofrimento físico provocado por desordens no corpo humano. Afirmo isto porque, não raramente, ouço pessoas dizerem: Meu marido é minha cruz; ou Esse menino é meu calvário; etc. Quando muito, estas coisas podem ser fardos, jugos, opressões, ou espinhos na carne. Cruz é outra coisa.


Para o discípulo, levar a cruz tem, pelo menos, quatro dimensões:


1) Inclusão na Cruz de Cristo. Cada discípulo está morto com Cristo: "Porque se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente seremos também na semelhança da sua ressurreição; sabendo isto, que foi crucificado com ele nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos". Paulo disse: Estou crucificado com Cristo. Nesta dimensão a cruz tem a ver com a nossa salvação, e carregar a cruz é permanecer na graça salvadora de Deus em perseverança e santidade, identificados com a morte salvadora e vicária de Jesus, mantendo comunhão com os seus sofrimentos, conformando-nos com ele na sua morte.


2) Paixão existencial, psicológica e emocional. Para Jesus, carregar a cruz foi também um ato de paixão: "Esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim". Jesus Cristo, a fiel testemunha, o primogênito dos mortos, e o soberano dos reis da terra, aquele que nos ama e nos libertou dos nossos pecados. Paixão por Deus, pela vida e pelos homens. Só um apaixonado morre para salvar o objeto do seu amor.


Na cruz do discípulo não pode faltar paixão, gemido e desejo de dar-se a si mesmo. Paixão é amor aquecido. É coração incandescido pelo fogo do sentir. Assim deve ser o discípulo: um ser virtualmente apaixonado por Deus e pelos homens, ainda que isso implique morte. Morrer pode ser a mais profunda maneira de sentir paixão pela vida, ainda mais quando se crê que esta é eterna.


3) Rejeição social, familiar e religiosa. Paixão e rejeição não são a mesma coisa. Pode haver paixão sem rejeição. No entanto, toda rejeição gera choro, gemido, desejo, paixão. É bem possível que a paixão venha acompanhada de honra e de admiração. Um homem apaixonado nem sempre é rejeitado. No discipulado, entretanto, a paixão é a irmã gêmea e inseparável da rejeição. E é neste ponto que a rejeição faz da paixão mais paixão ainda, pois a rejeição tira dela sua honradez e dignidade. A paixão aliada à rejeição é paixão pura, sem glória humana.


Não é difícil perceber que é para esta dimensão da cruz que todos os discípulos estão caminhando. Todos que querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos. A coerência absoluta com Jesus gera hostilidade. Andar com Cristo significa tornar-se espetáculo ao mundo, tanto a anjos como a homens. É ser a reação da bênção à força de maldições. É ser considerado o esgoto do mundo, a lixeira da sociedade, a escória da civilização.


4) A solidariedade na dor do outro. A cruz de Cristo foi um levar de dores, enfermidades, iniqüidades e injustiças, que teve efeitos vicário, salvífico, substitutivo e inclusivo. Com o cristão é diferente. Nossa cruz não produz nenhum desses efeitos. Todavia, permanece o efeito da solidariedade: "Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei. É interessante observar que esse levar as cargas tem relação, no contexto antecedente de Gálatas, com o pecado do irmão. A solidariedade do discípulo tem que atingir o nível de empatia que acometeu o coração de Paulo: "Quem enfraquece que também eu não enfraqueça? Quem se escandaliza que eu também não me inflame?". Ou: "Agora me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja. Chorar que os que choram é uma forma de carregar a cruz". No entanto, muito mais que isso é chorar pelos que não choram. Foi nesse nível que Jesus se solidarizou com a vida humana indiferente e empedernida. O discípulo deve ser o nervo exposto dos que não têm sentimentos. O discípulo aprende com o que Jesus ensinou e viveu.


A conclusão dinâmica de Jesus no convite ao discipulado é: "Siga-me". Nos dias de Jesus de Nazaré, na terra da Palestina, isto significava andar junto, comer a mesma comida, beber a mesma água, dormir nos mesmos lugares, passar o dia juntos, correr os mesmos riscos e assistir às mesmas maravilhas. Seguir a Jesus era algo histórica e geograficamente definido pela realidade do convívio físico. Como João explica, esse seguir equivalia a ouvir uma voz com um timbre certo, contemplar um rosto que tem fisionomia, apalpar um corpo concreto, enfim, manter comunhão com uma pessoa real no tempo e no espaço. Agora, no entanto, é diferente. Jesus está no céu, à direita de Deus, cheio de poder e glória, e nós estamos aqui neste mundo de perplexidade e revolta. Para nosso supremo consolo, Jesus vive em nós na pessoa amável e doce do seu Espírito. Todavia, em razão disso esse siga-me tomou outra dimensão. Tem implicações na vida concreta e geográfica, na medida em que o caminhar com Jesus desemboca na perspectiva ética, o que por vezes nos afasta de certos lugares por onde Jesus não passou nem passaria. Mas provavelmente isso se aplica mais ao palácio do caudilho do que à casa do pecador. No entanto, a dimensão desse siga-me é comportamental e motivacional. Seguir demanda do discípulo uma disposição prática quanto a assumir um estilo de vida dinâmico, desinstalado, imprevisível e perigoso.


Seguir Jesus é acompanhar o caminho de Deus, é aprender como ele reage dentro da condição humana. E para que isso seja possível, torna-se indispensável que estudemos o estilo de vida humano de Jesus de Nazaré, conforme revelado nas Escrituras: Em Cristo nós sabemos como Deus é e como o homem deveria ser.


A ênfase que daremos ao existir humano de Jesus tem a finalidade de contrapor-se à idéia de que apenas seus ensinos devem ser estudados. Na verdade, a única maneira de fazer teologia e usar acertadamente a hermenêutica é fazer da vida de Jesus a chave para a interpretação e prática do seu ensino. Estudar a ética do Sermão da Montanha sem tentar discernir como Jesus a viveu nos seus três anos de ministério é correr o risco de exagerar as lições ou reduzi-las ao padrão do mesquinho legalismo humano. Tudo o que ele ensinou, ele viveu. Ele é o Verbo que se fez carne. Suas palavras ganharam sangue, nervos, respiração, pele e suor. Acompanhá-lo é unir-se à sabedoria com rosto e olhos. Conhecê-lo é mergulhar no poço humano do conhecimento pleno. Aventurar-se com ele é desenterrar o tesouro da verdade eterna, cujas jóias brilham mais que as estrelas no firmamento. Cristo é a Vida, e só pode ser dignamente chamado de vida aquele existir que dele brota. Fora de Cristo as coisas existem mantidas pelo seu poder de coesão, mas não têm vida no sentido essencial da palavra, conforme entendida por Deus.


É nesse sentido e nessa visão de que a vida de Jesus é o único e definitivo caminho do discípulo que vamos andar. Jesus é aquele em quem haveremos de nos esteriotipar. Ele é o arquétipo, o modelo, o único verdadeiramente Homem. Nós nos tornamos, hoje, meras distorções desse ideal. Por isso, daqui para frente, neste trabalho, tentaremos andar lado a lado com Jesus, a fim de que com ele aprendamos a VIVER.Seguir Jesus: O mais fascinante projeto de vida
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